sábado, julho 28, 2007

Arrumando a Casa




Visita 1

Já no primeiro momento, na virada da rua esperança, eu o convidei para dentro da minha casa. Ele não tinha certeza se queria entrar, e mesmo assim eu o convenci. Tentei uma carinha doce, choraminguei um pouco e pedi o seu colo. Esse era dengoso, ou parecia ser. Puxei o moço calmamente pela mão, abri a porta e pedi para que ele limpasse os seus pés. Eu pedi apenas para que ele limpasse os seus pés sujos de lama da sua ultima caminhada. Ele tentou até, passou rapidamente os pés no meu tapetinho azul piscina enquanto eu o arrastava correndo para que conhecesse o meu lar. Ele foi deixando pegadas de lama pela casa... Eu nem percebia, estava tão ansiosa, queria mostrar todos os cômodos da casa! Na primeira parada, eu o apresentei para o meu grande armário. Abri gaveta por gaveta e fui entregando poemas misturados com por do sol. Mas no meio da minha entrega apressada, ele tropeçou nos seus próprios pés sujos. E olhou para toda a sujeira da casa feita pelos seus sapatos. Olhou, de rabo de olho, para inquilina aqui e saiu correndo! Sem que eu pudesse dizer: Espera! Desde desse dia, eu tento todas as manhãs apagar as suas pegadas dentro da minha casa. Eu esfrego com muito sabão feito de razão e derramo litros de lagrimas desiludidas para lavar. Esfrego, esfrego e esfrego. Sempre fica um restinho de lama, um borrado amarelo, no meio da casa. Isso quando eu não descubro uma pegada nova! Ele pisou em lugares que eu nem imaginava... Hoje depois da minha limpeza diária, vou ao um supersamba, procurar um novo produto, desses que apagam pegadas encardidas...

Visita 2

A minha casa tava uma pouco bangunçada e eu ainda não tinha conseguido limpar umas antigas pegadas. Já tinha até usado doce de abóbora como diluente rápido... Mas o meu esforço foi em vão. Um dia desses que a gente não quer sair da cama, escuto a campainha. Ao abrir a porta, fui rendida por um ladrão. Não era um ladrão qualquer. Era um ladrão conhecido. Um bandido que sempre invadia a minha casa quando eu estava carente... Sempre que recebia sua visita, ele roubava a minha esperança, destruía meu ego e rasgava as minhas roupas. Mas mesmo passando por tudo isso, eu abria a minha casa para ele. Carente, esquecia de olhar no olho mágico e quando via, ele tava lá. Às vezes entrava pela janela e me pegava sonolenta... Bagunçava tudo que via pela frente...Nesse dia, ao entrar, ele amarrou as minhas mãos por trás do seu pescoço, beijou a minha boca, começou a roubar o que era de costume até que achou uma caixinha preta. Perguntou o que era aquilo, eu rapidamente disse que era o que eu tinha de mais valioso. Ele sem nenhuma duvida levou a caixinha com ele e seguiu o seu caminho. Mas lá, dentro da caixinha, estava o meu medo da solidão, esse que sempre o chamava para me bagunçar. Agora não há mais medo de ser só. Agora é só ser! Depois desse nosso ultimo roubo, eu desci a minha escada feliz, troquei a fechadura e fui arrumar a casa!

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