sexta-feira, julho 31, 2015

Poço

Lá dentro, submersa. Gemido. Peso. Embaixo dos corpos, olhos fechados, aconchego. O contato, o friccionar. Vai doer – pensava. E não vai demorar muito para que acabe. Abro os olhos. É tesão, é ansiedade. Fecho os olhos de novo. Pra tentar manter aquele instante, como numa fotografia, pra sentir ainda mais um pouco a pele, o suor, no sonho. SE CONCENTRA, PORRA! Alguém dá um tapa. Gosto do som das palmadas, as mãos quentes. Começam a pressionar ainda mais, pesar nas partes específicas. Respirações aumentam. Eu, no meio. Partes encaixadas. ABRA OS OLHOS! Agora estou esmagada, com a cara no chão. Só que a tal força ainda não machuca, os corpos acariciam. VOCÊ TEM QUE SAIR DAÍ ! SAÍ, ANDA! Começo os movimentos, gemo, dou uns gritinhos, empurro os corpos, o chão, o medo, a dor. De quem são essas pernas frias e ásperas? Aos poucos, me desprego daquela massa amorfa de cheiros. Liberdade do primeiro, depois o segundo, parece fácil, mas não é. O desapego doí. Grito um pouco mais. Os últimos gemidos. Eles são retirados. A cabeça, os ombros, o pau, as costas, os braços, a cintura, as coxas, a buceta, as pernas, os pés, os seios. Não resta mais nada. É lembrança. O chão está frio. O vento percorre a sala. Escuto uma única respiração sôfrega, a minha.
Estou sentada na mesa da cozinha, ainda de biquíni, com o corpo salgado do mar. A porta se abre. Ele entra. Me dá um beijo na boca, olha pra mim, de banho tomado. Abre a bermuda e oferece o pau mole. Em pé, o membro dele fica na altura dos meus lábios. Começo a chupar. Com as mãos, pressiono o pau, vou torcendo a pele rosa, enrugada. Passo a língua, de baixo para cima, e ele começa a se enrijecer. “Viu como você é Poderosa?!“. Chupo. Chupo. Chupo. Chupo. Chupo. Tento engolir ainda mais aquele caralho. Me dedico. Meus olhos começam a lacrimejar. Hãn, Hãn, Hãn, Hãn, Hãn, Hãn. Enfio quase tudo. Sinto o gosto de vomito na minha boca, paro um pouco, tenho medo de sujar o pau dele com o resto de comida. Continuo o trabalho com as mãos. Respiro, antes de cair de boca de novo. Hãn, Hãn, Hãn, Hãn, Hãn, Hãn. Olho para a cara dele, olhos pregados em mim. O pau fica mais inchado, vou fundo, ele começa a gozar na minha boca, aceito o líquido misturado com a sensação de vomito, ele dá um gemido final. Eu enxugo a boca, bebo água, ele me dá um beijo na testa. “Boa menina!”. Ele sai, me mantenho sentada, com a buceta molhada.



Os dois deitados se esquentam. Molhados de lágrimas e gozo, eu vejo as pernas entrelaçadas. Eles, com a respiração sequenciada, dormem agrupados. Aos meus olhos, amor novo, de fato. Esse reforça ainda mais o outro. Sujeito plural. Eles juntos, eu me sinto abraçada. Uma pirâmide. Pequenas abelhas que sorvem delicadamente as infinitas dobras corpóreas expostas a luz da lareira. Tomo mais um gole de vinho uruguaio e um pedaço de salame. O resto da noite é o meu café da manhã. Flutuo no meio deles, eles pisam no chão. Nunca sei pra que lado que devemos seguir. Não é falta de firmeza, mas a minha dança é lenta. continua. constante. O amor me transborda, espalha a alma, me faz revisitar Deus. O universo está dentro de mim. Sou sensível a qualquer movimento. Eu, apenas poesia e panela. Logo mais, o sol nasce. Tenho vontade de deixar os dois e correr para o mar. As ondas parecem ainda maiores pela janela. Seria bom pisar na areia e sentir a água gélida subir pela espinha. Algo me prende no chalé. Talvez o cheiro misturado dos nossos corpos ou a saliva antiga entre as minhas pernas. Tudo será lembrança embasada em breve. Ele vai fugir. Ela vai embora. A forma vai desformar. Prefiro continuar sentada na bancada, rabiscando as palavras, tentando eternizar o instante. Poeta é um bicho besta. Receio o próximo passo. Já escuto o pequeno dragão. Repito, diversas vezes, baixinho, pra mim - Nada é meu – como se o mantra me salvasse do futuro. Só o tempo se apropria das peles. O resto, a liberdade abocanha.

...

Garganta empoeirada. Sozinha no canto. Falta ar. O inverno abraça forte. É o vazio que invade a alma. Tomo outro passiflora, dou uma volta no parque. Recalculo os passos que me afastam de ti. Repenso a individualidade antes tão almejada. Esqueço certezas, as decisões consensuais. Sou algoz da própria dor. Penso em desistir de tudo. Outra chance, a mesma estória. Procuro um final plausível que fuja dos clichês. Recorro a maturidade inexistente. Volto a ter quinze anos. Encontros diários encharcados de intimidade. As bocas que se agrupam “sem querer” como espasmos involuntários. Torcedores esperançosos afirmam: é apenas uma fase. Nem eles querem acreditar em tamanha novidade. Aqui dentro, o relógio se arrasta. As suas lágrimas são diluídas em doses de uísque. Você também tem quinze anos. Bate na minha porta de madrugada. Eu te cuido e tento cuidar de mim. Procuro a força que me falta. Tiro do útero, te dou colo. Te ponho pra dormir do meu lado. Me desespero junto. Acho que estou imensamente equivocada. Esbarro nos mesmos preconceitos velados, nas vontades escancaradas, na etapa do ciclo. Quantas vezes já debatemos esses pontos? Posto qualquer coisa sobre liberdade do Prem Baba. Ando de bicicleta, recito uma poesia. Procuro o pouco de mim que resta sem você. As minhas lágrimas molham o teclado do computador. Os hormônios saltam e eu escuto o choro de um bebê na varanda. Releio textos feministas. Discorro sobre o tema. Coloco mais água na tempestade, fervo a saudade na panela e deixo qualquer ação pra mais tarde.

Flashback






Dois beijos rápidos no rosto e o terceiro, já na boca. A quem poderiam enganar? As línguas ansiosas saboreavam a saudade latente. Um longo espaço. Os mesmos lábios. Havia o brilho dos olhos. O timbre lambia os poros enquanto as palavras saltavam. Vibrava-se o reencontro. As mãos se entrelaçavam, novamente. Pele conhecida. O sol batia, de leve, na cara e a erva queimada facilitava as respirações. Copo d’água, quarto, música indiana. Nos pés, começava a dança. A boca sorvia os dedinhos. Ela caminhava de forma apressada pelas pernas, coxas e seios. Se deleitava na fonte. Ele lambia todo o terreno. Aguada, escancarada, escorria. Enfiava os dedos. Gemia. Som da água brotando. Mordida no pescoço. Ela tentava abocanhar aquele pedaço de passado. A saliva percorria cada centímetro. As bolas, a cabeça, as mãos, os quereres. A buceta deslizava na parte superior do pau. As pupilas se encontravam. Então, ele, entrava. Quase mergulhava, escorregava. Preenchia. As pernas dela se contraiam, as paredes abraçavam forte. A saudade revirava do avesso. O espelho refletia: ele a conduzir com tamanha destreza. Ela agrupada, encaixada. Oferecia todos os buracos. Ele aceitava. Crava os dentes nos teus braços. Queria comer aquele cheiro familiar. Engolir o gosto específico da intimidade dos antigos amantes. Os dois conjugavam sem dar importância ao tempo verbal. As fotos antigas exibidas sobre a cama. E ao último gozo, eram de verdades que eles se lambuzavam.

Amor e Liberdade

Amar é aceitar a partida do outro, quando ele não quer mais ficar. É entender que tudo está interligado. E que não agir, também é ação. Que a permanência não existe. Aceitar o efêmero, os ciclos, as mortes. É olhar pra trás e remover a culpa. Entender as relações como experiências únicas e transformadoras. Que tudo é soma, e não subtração. A dor física que, nesse momento, encharca o peito, deveria ser gratidão por algo que foi vivido. Aceitar a escolha do outro é também abnegar do seu ego. É ver o amor de forma universal, maior que apenas o seu desejo de posse. É entender que o outro não te pertence. É aceitar a liberdade, o voo. É querer a felicidade do outro. Não controlamos nada, nem ninguém. Importante olhar os processos, lembrar que a vida é movimento e que o amor é liberdade.

...

Se você anda descalço, vai sujar os pés. E de que serve o caminho se você não se...? É preferível limpar a lama mais tarde. Para calos, água quente. “Vamos subir juntas até o alto da montanha? Você quer fincar uma bandeira? Não, apenas ver a vista.” Seguiram ao céu. Evitavam olhar pra baixo. Tropeçavam em pedras soltas. Beijavam o desafio. Era preciso entrega para se lambuzar na delicadeza. Subiram muito. Equilíbrio e euforia. O tempo necessário pra saborear cada parte da trilha. De uma, da outra. Não houve pausa. Nem pressa para chegar ao topo. Risco também era impulso. Olhar de cima, pequena para ser imensa. No ápice, sentaram de frente. Enxergamos os detalhes. Não era o todo que impressionava, mas as minucias somadas. A experiência percorre os poros. Já não sabiam qual era o gosto do próprio nome. A aventura mistura, pertence. Ficaram paradas. Quatro voltas do sol. O mundo seguia. Era preciso descer. “Como deixar as nuvens? Lá embaixo, ainda há céu.” Cada coisa, o que era de quem? Estavam contaminadas pelo tempo. Talvez usassem as mesmas expressões. Perceberam-se quase irmãs. As cicatrizes nos pés certificavam a longa jornada. A montanha no mesmo lugar. E assim, preferiram descer separadas.

eu não estou

Fui desnecessária. Não adianta buscar colo, álcool, maconha, filosofia, budismo. Não vai se repetir. Importante entender que eu não sou a cereja do bolo. E no mais, a festa acabou. Agora é preciso arrumar a bagunça. Se despedir dos convidados, aceitar as taças quebradas. Depois da rachadura, a casa já não é segura. É melhor não ter porto, seguir a deriva. Posso estar encoberta por um preconceito, mas de tal maneira, esse lugar que me encontro não é meu. E se não sou eu, pra que continuar seguindo? Fiz a prova e não passei. Estava entre o desespero e a satisfação. Euforia e falecimento. Dor e a Conquista. Agora não estou. É como se não fosse. Não me interessa mais os ícones, a filosofia, a vanguarda. Não será. Tenho que dar um passo, e sentir a consequência da palavra em voga.

terça-feira, junho 30, 2015

Cruzamentos

Duas faixas perpendiculares. Elas, interceptadas, formam um ângulo reto. A geometria usual, comercial de margarina. Pilar da propriedade. Com direito a herança, benção do padre, olhares orgulhosos dos mais banais. No modelo almejado não há espaço para outras intercessões. As ramificações ficam proibidas perante a igreja e a sociedade. Digo, assim, a luz do dia. Demais linhas não devem entrecortar o ângulo reto. Como o marco zero, aquele que abre espaço. Divide em dois eixos. Quase sempre, são duas faixas que se cruzam. As paralelas não contam. Mesmo podendo chegar a seis. Pouco importa o número. Elas não se beijam.

...

Aqui algo difere. São três vias. Elas se misturam. É difícil definir o ângulo. Não há perpendiculares, teorias ou valores morais. Rasgaram o livro, a constituição. Atrás das árvores, o triangulo, no meio, um círculo coberto de flores roxas. As ruas se entrecruzam, diluídas. Luzes dançam em volta. E daqui de cima, os meus olhos avistam a roda de fogo, no centro do trio. O todo que pulsa num espaço específico. Espécie de bruxaria. Sem começo ou fim. Entremeios une as três ruas. Parecem abdicar dos limites de reta para construir uma pequena utopia. Um balão, bucólico, no centro do peito.

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Lugar novo. Sem calçada, asfalto, concreto. O balão voou. Não há paralelas ou perpendiculares. O único caminho é o desejo. São os pés que transformam a terra. É o corpo que suja o barro. A força motriz do acaso. Escuto o meu peito recheado do agora. Um amor individual brota. A cidade está a beira. caminha-se para dentro. Poder olhar pra si. Entender o ato de pisar sobre uma rota improvisada. Ser a própria obra, criar a tua via.

sexta-feira, maio 01, 2015

Lá dentro, submersa. Gemido. Peso. Embaixo dos corpos, olhos fechados, aconchego. O contato, o friccionar. Vai doer – pensava. E não vai demorar muito para que acabe. Abro os olhos. É tesão, é ansiedade. Fecho os olhos de novo. Pra tentar manter aquele instante, como numa fotografia, pra sentir ainda mais um pouco a pele, o suor, no sonho. SE CONCENTRA, PORRA! Alguém dá um tapa. Gosto do som das palmadas, as mãos quentes. Começam a pressionar ainda mais, pesar nas partes específicas. Respirações aumentam. Eu, no meio. Partes encaixadas. ABRA OS OLHOS! Agora estou esmagada, com a cara no chão. Só que a tal força ainda não machuca, os corpos acariciam. VOCÊ TEM QUE SAIR DAÍ ! SAÍ, ANDA! Começo os movimentos, gemo, dou uns gritinhos, empurro os corpos, o chão, o medo, a dor. De quem são essas pernas frias e ásperas? Aos poucos, me desprego daquela massa amorfa de cheiros. Liberdade do primeiro, depois o segundo, parece fácil, mas não é. O desapego doí. Grito um pouco mais. Os últimos gemidos. Eles são retirados. A cabeça, os ombros, o pau, as costas, os braços, a cintura, as coxas, a buceta, as pernas, os pés, os seios. Não resta mais nada. É lembrança. O chão está frio. O vento percorre a sala. Escuto uma única respiração sôfrega, a minha.