quinta-feira, maio 05, 2011

...morte.

O profundo silêncio que se escuta. Eco de liberdade. Fios de cabelo no chão. Quantos cairão até o final do último parágrafo? Eu celebro o ato de descamar diariamente. Um pedaço de pele. Um pedaço de unha. Um pedaço de palavra. Esfrego a minha senhora, enquanto tomo banho. Retiro o cheiro dela, disfarço o gosto, camuflo o medo.  Eu entrego, sem objeções, o meu império. Os pés dançam sob o abismo velado a espera diária por uma solução eficaz. Eu bebo a minha eternidade no café da manhã. Assopro as certezas para longe. Peço para que em breve, não haja mais chão. Nem buracos. Nem padrões. O meu tempo deve ser todo consumido. Me despeço enquanto apago as memórias deixadas. Intercessões, alegrias, dores, marcas, as cicatrizes e afins. Os pormenores serão abortados. Até que tudo vire ausência. E o acaso me transforme em lembrança. 

3 comentários:

Grã disse...

Muito lindo e muito triste... não saberia dizer se é mais um ou outro, tem muito dos dois (tb não haveria relevância nenhuma em decidir).

Fica bem.

Waro de Oliveira disse...

Renascerei depois do último parágrafo?
Talvez.

... disse...

Um brinde à morte, e a sua poesia diária.