Mais uma noite fria, meu corpo gelado. Um silencio na casa, tudo parece estar parado...menos eu, que bato numa acelerada e desritmica agonia... Essa espera, essa ânsia, essa angustia... E nada acontece. Pego o telefone, respiro uma, duas, três vezes e coloco no mesmo lugar. Espero mais uma vez que ele toque, que faça qualquer som. Que seja engano, mas que ecoe uma voz qualquer,mesmo que seja tão desafinada como a minha. Vejo me sozinha. Será que algum outro corpo procura o meu nesse momento?! Silencio. Repenso na vida,nas coisas importantes que preciso fazer: contas no banco, o dinheiro que não entrou, o carro que tá uma merda, minha dieta, consertar a luz que queimou ...Modernas futilidades normais! Levanto da cadeira, e pego a minha vodca com sorvete. Adoro vodca com sorvete, é uma maneira gostosa de satisfazer a minha vontade de sair da realidade e sentir o gosto doce da vida! O sorvete derrete na minha boca e engana o amargo da vodca. Associo aos beijos e toques suaves do estranho de ontem, que tinha em sua a mente apenas transar comigo. Lembro-me bem de ontem, do corpo estranho que me entrelacei, uma intimidade desonesta. Não, eu não te conheço! Mesmo te conhecendo, ainda és um desconhecido. Assim como não me revelo a ti, você é apenas imagem torta pra mim. Tocava no seu liso cabelo, beijava sua boca carnuda, tentava sugar sua alma. Queria redescobrir algo meu ali: a ESPERANÇA. Mas não podemos esperar certas coisas, de certas pessoas, em certas circunstancias. Enquanto o meu intimo estranho dormia ao meu lado, agarrado no meu corpo incomodado por não se adaptar naquilo tudo, eu percebia a carência inerte em nós dois. Uma simples troca de favores que tenta suprir falsamente a necessária entrega, para depois saímos um em cada direção. Lançados no mundo com a nossa liberdade. Na superficialidade frívola da contemporaneidade. Olhava aquilo com uma certa melancolia, porque sabia que não era isso que esperava das relações humanas. Nem eu, nem ele. Posso ser muito contemporânea, se eu quiser... Mas essa não é minha visão de mundo! Não queria ser mais uma peça desse jogo idiota, mas eu nunca me vi tão vulnerável ! Volto para a minha sala, estou na segunda bola de sorvete. Já são 2 horas da manhã, tiro uma carta de tarô. Penso seriamente em pegar o meu carro e ir pra o samba mais perto e encontrar alguém! Alguém que me veja, alguém que queria enxergar o feio em mim. Percebo que não adianta fugir de mim, porque a espera pulsa comigo.
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