segunda-feira, julho 21, 2014



Amanheço. Me descolo da cama. Lençol, edredom, coberta. Quarto quase arrumado. As coisas, insuportavelmente, nos lugares. Excesso de zelo, carência de toque. O desejo latente que parte do peito, escorrega pelo umbigo e desliza pelos poros. Acordo com a boca seca e a buceta molhada. Imagino a pressão daquelas duas forças específicas sobre o meu corpo. As possibilidades de diálogo. Teses. Romances. Tudo encosta, agrega. Coreografia improvisada. O ato de agrupar as partes, de transformar os desejos em líquidos. A saudade invade o quarto. De alguma forma, o cheiro misturado das três peles pode ser sentido. Vestígio antigo do lençol. Procuro as mãos diferentes, para que elas dancem sobre as minhas dobras. Abro a boca, esperando não apenas uma, mas, duas línguas. Elas se alternam e lambem a minha poesia. Meus olhos assistem, comem, vidram. Estão, de alguma forma, dentro, também dos beijos entre elas. Vontade de tirar pedaços. Guardar um pouco de suor, de sangue, de gosto. As minhas mãos anseiam pelos pés, pelas pernas, pelas coxas. Os dentes desenham tatuagem nas peles brancas. Pequenos puxões de cabelos. Uma mordida em cada pescoço. O sugar do sexo. Dos lábios, das bolas. A boca que anseia pelo poema. A respiração sugere outra parte. A buceta que pede o pau que pede outra buceta. Os lábios que se encostam e jorram, um sobre o outro. Todas as portas, todas as alternativas. Plural compartilhado. O suor das virilhas na mucosa da boca. Uma lambida em cada orelha, os dedos entre os cabelos. Emaranhado de pele, de gozo. Três corpos nus numa cama pequena.

sexta-feira, julho 11, 2014


...encontra olha encosta toca desliza beija lambe escorre despe suga penetra come goza junta transporta encolhe.





...a boca que beija duas bocas que lambe três lábios que abocanha o pau que chupa a buceta que amplia o discurso que diz pouco quando amanhece...

sábado, março 29, 2014

Suavidade. Algo faltará. 
O equilíbrio é coberto de pausa. 
E pausa, não é movimento. 
Aqui dentro: apenas o furação. 

Improviso de mim.
havia sol. havia companhia.
pouco importa.
o silêncio preenche.

quinta-feira, março 20, 2014

Reli você por três vezes. Não sabia ao certo se deveria responder, esse bilhete, rabiscado de caneta bic, encontrado debaixo da porta da minha casa. Quem é você, que sabe onde eu moro, que coloca palavras no meu dia?

Você disse que não entendeu sobre os pássaros. Mas, por ironia, hoje, você derramou quilos de comida para eles, aqui na minha sala. De forma, que não sei se conseguirei lidar com aves tão bem alimentadas.

Pelo seu bilhete, eu entendo que você conhece o segredo para se manter alguém em cativeiro. Dar apenas o suficiente para que o outro não morra. Para que ele se sinta feliz com a pequena quantidade de carinho que a presença do algoz o traz.

Encheu meu ego, citou uma possível fama. Você me seguiu ? Estava no bar, depois da palestra? Você diz que me conhece pouco. Pouco quanto? Porque nesse momento, você está me fazendo enlouquecida de uma curiosidade infantil, típica de um correio elegante.

Eu não sou uma matéria de jornal. Aliás, saiba que os jornalistas distorcem muito as coisas, e talvez eu não seja nem metade dessa realidade que você me refere. Talvez, eu seja apenas uma mulher recheada de pássaros que você fez questão de alimentar.

Fiz parte da sua imaginação ontem. Agora falta a realidade. Não sei onde estou com a cabeça, mas essa tua coragem de invadir a minha casa, com essas letras azuis-bic, me fez pensar que seria desafiador me jogar ao desconhecido.
É isso.

Vou deixar a carta aqui, colada na minha porta. Vou sair o dia inteiro, e como você não me deixou um endereço, espero que volte e encontre a minha carta. Vou por num envelope azul, desenhar um pássaro brega, e escrever pra você.

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Ativa

Resolvi voltar a postar aqui no blog. Retomar os textos, com as mesmas palavras, cheia do meu ego. Esse silêncio, causado pelo luto e pela publicação, me fez repensar as plataformas da poesia.  Poesia não é só palavra, é ato. É a forma que se respira. A delicadeza que espanca a nossa atenção quando estamos andando pela cidade.  É o beijo que se dá ás três horas da tarde na segunda. Esse pedestal que está a literatura não existe. Escrever é despejar os desejos na tela. Não é necessário que agrade, que faça sentido, que você seja considerada poeta, escritora, o caralho. Compartilhar é o sentido. Expor outro ponto de vista. Convidar para um lugar. Não necessariamente alguém, mas a si. Se afundar nos teus espaços, nas tuas rimas clichês. Dói repetir os padrões, as expressões? Evidente. Não existe nenhuma novidade nesse fato. Mas a mudança só se dá nos pequenos atos diários. No minúsculo relato. Nas outras palavras escolhidas, reconhecidas. E para conhecer algo, é preciso se reconhecer gente, erro, desordem. E é dessa forma que volto. Me arrisco (novamente) a essa atividade doentia, revoltante , massacrante, deliciosa que é costurar palavras.

Sejam bem vindos!
Existe alguma coisa. É no centro. Coisa do centro do peito. Nesse espaço entre o seio direito e esquerdo. É um buraco fundo. Um espécie de vácuo. Talvez a dúvida. Uma mentira deslavada. Contada, repetida, ressonada. A escrita igual. Com três adjetivos juntos. O tempo de fechar os olhos, escutar a respiração e o batimento cardíaco. Como se tivesse a espreita, muito perto, o instante de coragem que a antecede a tempestade. A colisão. O reconhecimento do tom acinzentado. Aguarda. Novamente, fecha os olhos. Se fecha inteira. Pede pela pausa. Congela. Sabe o quanto é difícil se afogar? Grande pote de indecência. Lambuzar os dedos com escarro e desenhar no espelho. Porque esse oco, grita, aqui, no meio, agora? Um formigar sobe pelo pescoço, percorre a cabeça. Nem as palavras derramam mais. Se repetir enferruja a alma. Peço que caia sobre o colo sedento, sobre o sexo cansado, um espasmo bobo. Tratamento de choque, capotamento de vida. Transborda em mim, esse deus que não existe.


Do avesso, eu ficava, para te oferecer, a melhor parte. O possível, o provável. Revirada, esparramada. Te alimentava com palavras e trepadas. Boas trepadas. Fudidas homéricas. Intermináveis. Como se cada gozo fosse um novo trampolim, e eu, atleta dedicada.