quarta-feira, setembro 21, 2011

Entrevista 1

Acabei de receber a entrevista que realizei para o Renato Acha. Adorei o resultado. É muito bom quando você consegue dialogar com um jornalista de forma sincera. Conversar, debater sobre o trabalho, sobre a cidade, sobre a vida. Amei. Gostei tanto, que posto aqui:


Acha – Qual a identidade de sua poética?


Patrícia Del Rey – “Os homens vêem a sexualidade no meu texto, a mulher a identificação, a dor. O poeta coloca uma lente de aumento na realidade. A poesia está em toda parte, no ipê no meio do eixão, mas poeta vai lá e escreve: ‘aqui, as flores nascem do concreto!’ - e as pessoas acham isso lindo, é simples. Tá ali, todo mundo vê, mas é preciso escrever para que as pessoas lembrem da poesia. Entende? Daí falo desta relação entre linguagens, no fundo temos sons imagens e cores mas a palavra os torna viventes”.


Acha – Fale mais sobre o olhar feminino e o masculino sobre sua obra.


Patrícia Del Rey – “A coisa da diferença das mulheres e dos homens é o seguinte: Fiz um conto erótico de uma mulher que se relaciona com um homem casado pela internet, uma coisa boba, de web cam, sabe. A ideia era trazer a internet pro texto e por no blog, trabalhar o imaginario das pessoas. Não tem verdade ali, assim, na prática. Mas tem toda verdade do mundo, porque tá escrito, e muitas pessoas já fizeram, mas é uma mulher apaixonada por um homem casado. Quando o publico feminino lê, sente a dor. Está ali, antes do sexo. O homem fica de pau duro. Eles se tornam aqueles personagens e o poeta tem a função de sensibilizar o outro. É como o ator, o artista. As pessoas querem sentir é isto”.



Acha – Como foi a compilação do material para integrar o livro?

Patrícia Del Rey – “Fechei o livro com 80 páginas e tive um grande amigo, que agiu como meu guru, o Henrique Rocha. Ele me ajudou a escolher e montar. Teve uma hora que eu pirei! Difícil tarefa, porque somos muito repetitivos, tanto na vida quanto nos textos. E tem textos de 2007. Aí você lê e fala: Quem era essa pessoa que escreveu isso? Eu não sou mais essa, e você vê a qualidade e corta, reescreve, pensa de novo. A  gente muda e não se enxerga mais o mesmo, como no teatro. Algo efêmero, mutável. Você estreia e vai mudando, sedenta pela vida, pela arte e pelo amor. Na literatura você não tem a oportunidade de mudar. Porque você imprime né? Um blog, você deleta. Um livro não, ele perdura, ele marca um tempo. As poesias já não são mais suas. São do outro, daquele que lê”.

Acha – O tempo tambem é leitor.

Patrícia Del Rey – “Eu não vou ler o livro. Só daqui a dois anos. Brasília é um papel em branco, há muito espaço para o novo, para a poesia, para a arte. A gente pode escolher as letras, pois tem espaço para todos. Eu amo Brasília!”

Acha – Você nasceu aqui?

Patrícia Del Rey – “Não, sou baiana, mas me considero candanga. Somando indas e vindas tenho 20 anos de Brasília. A cidade tem 50. Acho que faço parte da geração dos novos candangos”.

Acha – Muito bem vinda!

Patrícia Del Rey – “A gente escolheu construir a cidade, porque temos uma função social importante aqui”.

Acha – Adotou a cidade e incorporou sua forte personalidade.

Patrícia Del Rey – “Sim. Criar o sotaque”.

Acha – Adorei ouvir isso!

Patrícia Del Rey – “Com certeza. A gente não anda na rua em Brasília, só de carro. Você não gosta disso? Mude! Mude a cidade. Você é a cidade. A rua é sua”.

Parto 2



"Entreaberta é uma soma de textos publicados em blog literário, de comentários dos leitores, de stencils pintados nas tesourinhas, de cenas e músicas criadas para o espetáculo Poéticas Urbanas. Está tudo misturado: A cidade, o amor líquido e o feminino. São mulheres passageiras de um inferno particular. Poesias transformadas em cenas ocupam as ruas desertas. Aqui, tudo é romance, Brasília é poesia concreta."


Serviço

Dia: 21/09/2011 - HOJE
Local: Rayuela Restaurante Cultural
Hora: 19h30min 

terça-feira, setembro 20, 2011

Parto 1



É clássico. Ninguém dorme na noite anterior à estréia. Pendências, medos, contrações. Parece que deitar na cama se torna pesado e estranho. Não adianta contar carneirinhos. Quando a ansiedade bate, não há ensaio que resolva. Depois de tanto tempo fechados em um processo umbilical e cansativo, temos a chance de mostrar o nosso pequeno monstro para olhares diferentes.

O primeiro encontro. Aquele momento que você deseja muito, mas sabe que talvez por nervosismo, fale besteiras ou quebre a taça na hora do brinde. E se isso acontecer, você vai ficar sem graça por um momento, mas depois vai rir da situação. Porque haverá outra oportunidade. Outros encontros. Outras pessoas. Talvez as mesmas. Com o coração mais aberto, e você com o discurso mais conciso.

Pra mim, um espetáculo sempre nasce prematuro porque o público é parte fundamental do processo. Dialoga, sente, demonstra. O teatro (como amor!) só acontece quando o outro te olha. Conversa, exibe a delicadeza, aceita comungar. E por mais contemporânea que seja a obra, o artista quer ser entendido. Transformar você. E isso não está relacionado à carência, e sim, a ideologia. Não há sentindo nenhum em realizar monólogos egocêntricos quando se há tanta vida para trocar.

Hoje, a gente espalha a poesia, pede o toque, o teu olhar aberto. Que seja a primeira de muitas apresentações. Um brinde ao Poéticas e a Andaime! Evoé! =] 


Serviço:
Águas Claras
Estréia dia 20/09 (hoje) as 19h e as 21h,
na Avenida Araucárias, lote 1525, na Praça do Edifício Metrópole.
Entrada Franca!

segunda-feira, setembro 19, 2011

Quer mais um pedaço?




Durante o processo do Poéticas Urbanas, a Andaime Cia Teatro realizou um ensaio fotográfico. A ideia era transformar as poesias em fotos, e utilizar as imagens no espetáculo. Pra isso, convidamos o Diego Bressani. E lá fomos nós, tiramos a roupa, entregamos. Fomos sinceras, autênticas. E ele, precioso. O resultado é poesia. Os olhos do Diego captam os textos. A gente se abre, conversa, fala besteira. Dá boas risadas das rimas improvisadas. Corremos num corredor bem brasiliense e gritamos as nossas dores. É fácil exibir a verdade para câmera. Ela vira amiga íntima, confidente. De alguma forma, o fotógrafo desaparece ali. Somos apenas mulheres, filosofando sobre a vida. Ele observa, em silêncio. Cede lugar, conduz a delicadeza. Será que há algo mais bonito que um corpo nu preenchido com as palavras certas? 

Aconselho que visite o link, antes de responder:

http://diegobresani.wordpress.com/

=] 

terça-feira, setembro 13, 2011

...

Dias ansiosos de alegria e medo. De mudança. Assumir posições, lugares, escolhas. Dizer pra que veio, sem mesmo saber o porquê veio. Ter vontade de fugir. De sair à francesa. De inventar um curso do outro lado do mundo. E ao mesmo tempo, planejar abraços mais fortes aqui. Escrever mais, com mais qualidade. Escancarar o que as pessoas fingem não entenderem. Dividir a loucura com coragem. Ser responsável pelo grito. Entender a mediocridade humana. Esquecer essa seriedade imposta por uma sociedade hipócrita. Se permitir o erro. O processo. O tempo. Não aceitar o raso, a superfície instantânea. Chorar compulsivamente. Acreditar em ideologias gastas. Aceitar a vaidade. Matar o superego familiar. Se questionar os porquês. Entender que só é possível com amor. Mesmo que pareça clichê e imaturo. Tomar um porre de conhaque barato. Se assumir do jeito que você é. Transbordar as qualidades e os defeitos.  Achar seu lugar na cidade. No mundo. No outro. Em si. Não levar nada tão a sério. Pedir mais muros para pixar. Martelar concretos armados. Achar as frestas, os caminhos desconhecidos. Beijar a crise. O caos. A oportunidade de mudar tudo, de novo. De rever o seu reflexo no espelho. E pedir mais dias ansiosos de alegria e medo.

terça-feira, setembro 06, 2011

vamos?

Sobre silêncio e gravidez


fotografia de Diego Bressani - Poéticas Urbanas

Sim, o blog está em silêncio. Ando sem tempo para poesia. Elas aparecem, cumprimentam e partem. Eu não me apego. Deixo passar. É como se não houvesse espaço suficiente para escrever. Continuo sentindo a presença, mas a tela fica branca. Talvez o fato seja transformado apenas depois de finalizar a minha gestação. Peço paciência aos leitores/visitantes.

Foi na 28ª semana que enviei o pedido de cadastramento no ISBN. Serei escritora de verdade - segundo as convenções. Engraçado. Lembro de quando recebi o diploma de interpretação teatral. O papel certifica de alguma forma a minha competência, mesmo que não se consiga nenhum personagem por ter aquele documento na mão. É preciso fazer o cadastro? Eu fiz. Espécie de pré-natal. E não é que até na burocracia toda houve certa emoção velada? A partir do recebimento do número terei uma nova palavra para lacunas profissionais: escritora.

Houve outras coisas bem mais legais e interessantes na semana passada. Como o projeto final do meu filhote. Quase um ultra-som. O Rafael Braga arrasou na diagramação. Uma delicadeza primorosa. Em cada página, eu percebo suas mãos sensíveis. Outro toque especial foram as belas fotos do Diego Bressani. Apenas três, mas que dialogam com todo o conceito do livro. Também recebi uma gentil e instigante orelha de um poeta brasiliense. Enfim, muita emoção pra uma mulher grávida.

Meu primeiro livro. Ler/falar/escutar a tal frase ainda me assusta. Gosto de dar importância, afinal, é um desejo antigo. Cozido ao forno brando, com temperos refinados. Não é um acontecimento banal. Tem valor imenso, independe do caráter literário e estético. Será entregue para o mundo, mas terá a minha cara. A vaidade impressa. E sim, isso dá muito medo.

Poderia continuar a exposição de todas as minhas angustias. Ou falar das outras semanas. Das duas próximas, em especial. Do orçamento, da boneca, da última revisão. E principalmente, sobre o nascimento no dia 21 de setembro/1º dia da primavera no Rayuela.  Mas como as grávidas ficam mais sonolentas nos últimos meses, deixarei para os próximos posts, ok?

beijo ansiosos, barriga cheia de vida.