sábado, dezembro 25, 2010


"A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor. Como se fosse um crime desejar alguém com toda intensidade. Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance. Tem que se controlar, fingir que não está incomodada, mentir que não ficou machucada por alguma grosseria, omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra. Ela é vista como uma figura perigosa. Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado. Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca. Exige-se que seja educada. Ora, só o morto educado. O homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol, Para honrar a saída com os amigos. Para proteger sua manias. Diz que não quer uma mulher o perseguinho. Que procurar uma figura submissa e controlada que não pegue no seu pé. Eu quero. Quero uma mulher segurando meus dois pés. Segurar os dois pés é carregar no colo. PORQUE AMAR NÃO É UM VEXAME, ESCÂNDALO MESMO É A INDIFERENÇA."
Carpinejar

terça-feira, dezembro 21, 2010

Férias


Mais cinco dias, e a minha barraca estará nessa praia! =]

Balaço Geral

O ano começa pra mim. Perda das certezas. Família, papai infartado. UTI. Meus passos solitários. Sou a segunda opção. Barraca de camping, praia, ondas, festival, as primas, os conselhos, a Bahia. Masturbação solitária. Gotas lisérgicas que benze a minha cabeça. A água do mar. Salvador. O mouse da vovó, o iate clube, jazz no ouvido. Falta dele, raiva de mim. Teatro Pós-dramático. Lehmann. Um novo processo. Volta pra casa. Brasília quer que eu pinte a minha dor nos seus monumentos brancos. Terceira ponte. UnB. Escadinha Inca. Os braços do homem que eu amo. Um quarto azul. Uma batida de carro. A importância da outra parte envolvida. Mentiras tolas. Necessidade de sumir. Terminar. Vontade de gritar. Um encontro num bloco pré-carnavalesco. A dor de saber que o verbo amar é conjugado por três pessoas. Dividida. Lágrimas pré-anunciadas. Tarô da Aline. Banho de sal grosso. Reencontro. O píer do parque da 13, o  Lago Paranoá. A perfeição poderia ser quebrada? Rio de Janeiro.  O carnaval, os telefonemas, as mensagens, desespero. Saudade. Compra-se Liberdade. Um peixe, uma estante branca, um casamento. Os atores gostam de inventar amores. Somos duas vogais dentro de uma poesia curta. Representamos bem os nossos papéis. Lágrimas masculinas no aeroporto.  A realidade. Como encarar a quarta-feira de cinzas? Brasília me oferece o teu colo. São apenas dois últimos encontros, antes da morte do quarto azul.  Os corpos dialogam, as palavras somem, os orgasmos se multiplicam.  O carregador me acorda, leva o nosso colchão. O quarto está quase vazio. Vou virar lembrança. No banho, eu escorro pelo ralo. O último almoço, um livro de astrologia. Meus gritos engarrafam os carros no Eixão. Um dia inteiro deitado na cama. Não há ligações, não há mensagens. Sou barrada no aeroporto. Olho no relógio, o avião deve está subindo. Ele parte, e sou eu que fico desabrigada. Um silêncio de 20 dias. Tenho pesadelos. Tenho saudade de mim. Onde eu me perdi?  Minha boca está cheia de ferros e aftas. Teatro, trabalho, produção. A cidade se exibe para as serpentes. Damos o bote. Comemos todas as siglas. Todos os jornais. Todos os críticos. Mais uma peça do Andaime. Devo me atirar lá de cima? Pagamentos, apoiadores, prestação de contas, secretária de cultura, editais, FAC, cinco projetos, 160 mil. A minha poesia parou de fazer sentido. Por quanto tempo vai durar esse amor? Ejaculações precoces, frigidez, deserto, festas estranhas, Skype e webcam.  Será que a minha caixa de e-mail quer me iludir?  O calor do Acre. A lembrança de um telefonema. Voz, corpo, ausência. Dou aula, corrijo tarefas, dou feedbacks.  Viajo de taxi, de ônibus, de avião.  Descanso de mim. Aperto um. Sigo pra Chapada dos veadeiros. Amigos paraibanos, uma revista virtual, um beijo metálico. Tenho medo do futuro. Viajamos todos juntos. Uma proposta de namoro, a minha recusa. Ensaios, ensaios, ensaios. A copa do mundo na casa da mãe da Tati. A comida do Ivan. A amizade da Kamala. Verde e amarelo. Uma aliança enorme estampada na tela do meu computador.  Eu quero matar toda esperança que existe no mundo. Eu me escondo no silencio. Eu me atiro nas festas. Uma menina linda, dez beijos suaves. Escuto cantadas machistas, tiro as cartas de tarô. Eu levo a minha menina no aeroporto. Não há barreiras. E damos o último beijo na porta de embarque. Palco giratório. (des)esperar. Taguatinga, Ceilândia, Brasília. Os sambas no MRE. Devo entornar todas as garrafas de uísque do mundo? Outro beijo, um violão. Todas as músicas do Chico no meu ouvido. Uma tentativa sincera. Cafés, almoços italianos, por do sol, eventos sociais, livros emprestados. Um dia de cada vez. Eu entro na água com cuidado. Ainda há muita saudade engasgada. Um convite para uma festa, uma casa revisitada, uma caricatura exposta, um dia fora do tempo, um email. Pra que mentir pra mim mesmo? A vida é um eterno aprender. Casas compartilhadas, famílias apresentadas. Todos os fins de semana estão agendados para o mesmo fim. Tiro meu aparelho, visito o escritório.  Aprendo sobre a Advocacia. Aperto outro cigarro. Mordo o lábio inferior do meu namorado, ele reclama. Esboço uma poesia. Não sinto verdade nas minhas rimas. Uma amizade parece crescer. Mas cadê a minha paixão? Só podemos preencher um coração quando este está vazio. Personagens, tentativas, peças de teatro.  Festival Mulher em Cena. Martins Pena. Trabalho, trabalho, trabalho. Patrocínio com SESI. Chapada dos Veadeiros. Uma galera, uma briga, as velas, a cama de casal, o incenso. Será que o caminho está mesmo errado? Frio na barriga, beijo no pescoço. Trabalho, trabalho, trabalho. Assinaturas, abertura de conta em banco, revisão do carro. Ensaio, ensaio, ensaio. Uberaba. Van, Andaime, aplausos. Dinheiro. Chopin. Estréia. Dormir junto todas as sextas-feiras. Almoçar no sábado. Conciliar o tempo. Ler e-mails, atender celular. Conciliar o caos. Escuto o violão dele, aceito a sua lei seca. Acho graça das tuas caretices virginianas, da sua altura, da vontade de agradar a todos. Dou o meu voto para pessoas que eu não acredito. É preciso tentar de verdade. O Rio de janeiro me espera. Oitenta anos da Vovó. Tios, primas, restaurantes, presentes, salão de beleza, Lapa, porres homéricos. Jantar na casa do pai da Kamala. São Paulo. Mensagens, gtalk. Bienal. O coração bate. Surpreende. Desorienta. Thelonious Monk na vitrola. O toque suave e forte, como piano dedilhado. Gosto de chuva ao acordar, o corpo satisfeito enroscado na cama. O sotaque ao pé do ouvido ao longo de quatro excelentes dias. A capital paulista está apaixonada por mim. Voltar para casa mais uma vez. Brasília me recebe com chuva ambígua. Saudades misturadas. Chocolates belgas no aeroporto. Almoço rápido. Trabalho, ensaio, trabalho, ensaio. Filme selecionado para o festival de Cinema. Produção, produção, produção. A espera se arrasta por uma semana e meia. Análises sentimentais, meu risoto de pêra com gorgonzola , champanhe. Como posso orquestrar o furacão que está aqui dentro? A minha perdição retorna, o meu peito rasga. É maior que o sexo, é maior que as convenções.  Eu fujo do mundo por uma semana. Escondida num hotel, os meus pés perdem o contato com o chão. Eu danço no meio da esplanada. Escancaro a minha loucura, mancho os lençóis brancos de sangue. Dor, esperança e amor estilhaçado. Eu quero pichar todas as quadras. Quero colocar cicuta no uísque. Quero morrer um pouco. Eu choro, eu me despedaço. Viajo para o Acre. Vomito no aeroporto. Escrevo sobre borboletas, caminhos, quereres. Eu procuro a minha cabeça perdida no meio do nada. Eu volto para o cerrado. Desfaço os laços que já estão frouxos. Eu tomo um ácido. Beijo um amigo para distrair. Quem eu quero enganar? Minhas ruínas estão expostas por toda cidade. Tento trabalhar. Procurar pauta, imprensa, concreto. Faço chamada, dou aula. Curto circuito. Produção, jogos, produção. Um telefonema.  A voz, o timbre, o cheiro. O amor interrompe o meu trabalho. Meus olhos marejam, eu balanço. Quero costurar a minha vida naquela pele dele. Tenho idéias patéticas.  Espero a madrugada, exibo as minhas partes. Lambo a tela do computador. Publico as nossas poesias na capa do jornal. Somos descobertos. Julgados. Sou arrastada novamente para o Acre. Rua sem saída. Nenhuma atitude, a espera, a covardia de sempre. Dou todo o meu apoio. Tenho medo do futuro. Receio dos meus desejos. Tento compreender o que não é explicado. Passo 4 dias em Brasília. Arrumo e desarrumo malas. Arte gráfica, imprensa, trabalho, ensaio, notas fiscais, compra de passagens, pagamentos, diárias de alimentação. Belo Horizonte. Galpão Cine Horto. Trabalho, cachaça, choro, estado de minas, apresentações, seminário, feira da música, cartaz, filipeta, pagamentos, críticas, os aplausos, as caras feias. Pisamos no céu. Mais uma peça, mais um andar. É preciso voltar pra casa. Colocar os pés pra cima. Brasília ainda me quer por duas semanas. Analiso o ano. Agradeço as conquistas, os machucados. Compro uma agenda e um caderno. Faço planejamentos. Peço organização. Dinheiro. Um amor possível. Uma casa nova. Tomo o derradeiro porre no Beirute. Procuro a barraca de camping. Ainda é preciso comprar os presentes de natal. Entregar documentos na UAB. Acabar as tarefas da pós-graduação.  Coloco as roupas para lavar. Escrevo esse texto ridículo no blog. Penso no meu "estranho amor".  Aperto mais um. Imagino a praia da Bahia. Sinto as areias nos pés, a música no ouvido, a saudade no peito. A vida se enche de esperanças. E com um sorriso, 2010 se despede de mim.   

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Somos músculos involuntários. Pedaços intransponíveis. Um pequeno milagre que não se pode comprar ou revender. A porção da loucura divina, esquecida no meio da terra. Somos o AMOR GRATUITO.  Aquele que não precisa de motivo ou contrato, apenas do desejo absurdo de se manter ali, vivo.  Inerte. E dentro do furacão. O nosso amor não se escreve em papel, mas se imprime na pele, na despudorada liquidez. Estamos destinados a dançar juntos mesmo que não haja música. Não por obrigação, mas pela benção da suprema felicidade encontrada.  

sábado, dezembro 04, 2010

sexta-feira, dezembro 03, 2010

segunda-feira, novembro 29, 2010

De fato algumas pessoas possuem um verdadeiro reflexo de submissão, um medo irracional da liberdade, um masoquismo visível em toda parte da vida cotidiana. Com que amarga facilidade se abandona um desejo, uma paixão, a parte essencial de si. Com que passividade, com que inércia se aceita viver por uma coisa qualquer, agir por qualquer coisa, com a palavra "coisa" arrastando por toda parte seu peso morto. Uma vez que é difícil ser si mesmo, adbica-se o mais rápido possível, ao primeiro pretexto: o amor pelos filhos, pela leitura, pela alcachofra. Nosso desejo de cura apaga-se sob tal generalidade abstrata da doença. 

Raoul Vaneigem

domingo, novembro 28, 2010

terremoto, dragão e vertigem




Havia vomitado duas vezes. A cabeça doía. Meu sono estava comprometido pelo balanço das placas e pelo bafo do dragão. Um terremoto havia se instalado em minha morada. Disfarçado de verdade, ele destruía a ordem pré-estabelecida.


Fomos atingidos enquanto fazíamos amor. As palavras estavam espalhadas pelo escritório, o nosso cheiro peculiar fazia parte da mobília. E aos pés do ouvido, os sussurros tracejavam um futuro idealizado.

E de repente, aquele tremor.  Tive medo que a nossa casa, de bases flutuantes, encostasse o chão. Poderíamos sobreviver à realidade? Teríamos força para reconstruir os sonhos? Íamos consumir todas as possibilidades? Seriamos plenos e felizes? Ou morreríamos na próxima esquina?

Do outro lado do mundo, fomos descobertos. O dragão sabia que estávamos vivos. Que existíamos. Que estávamos intimamente ligados. Ele destelhava o nosso cativeiro e rasgava as minhas esperanças. Era preciso aceitar aquele fato. O que faríamos agora, desprovidos de esconderijo?

Quando não tomamos decisões, encaminhamos para que a vida as tome. Durante 21 meses, de maneira submersa, tínhamos atitudes destemidas. Escancarávamos o amor proibido em cada canto visitado. Éramos ingênuos e inconseqüentes. Não nos preocupávamos com abalos sísmicos ou com descobertas de dragão.

Agora, o terremoto havia arremessado o corpo do meu comparsa pra longe. Eu esperava notícias, enquanto as suposições pipocavam. Estaria ferido? Teria força para optar? Conseguiria sobreviver a mudanças?  Ou ficaria no mesmo lugar? Ele seria mais feliz ali, com o seu dragão e sem mim?


Eu limpava o céu, enquanto ele negociava. Ordenava os novos fatos. Organizava os quereres. Desenhava as necessidades de um amor impuro. Eu doava o espaço para que eles decidissem a rota da minha pequena vida.
  

sábado, novembro 20, 2010

terça-feira, novembro 16, 2010


Durante a separação:
ele ficou com a classe, ela com copo.

Sobre pára-brisas e borboletas

Havia borboletas na estrada. Brancas, amarelas e pretas. Elas voavam em bandos, felizes.  De certa forma, as inocentes damas traziam um pouco de poesia para minha viagem.  Eu, sentada no banco do passageiro, as observava.

Nadavam na direção contrária. Atiravam-se no pára-brisa do taxi. Uma seqüência de acidentes letais. Todas as borboletas eram atropeladas na minha frente. Suas asas quebradas enfeitavam o vidro e impacto rompia o silêncio. 

A cada acelerada do motor, mais tragédia. O motorista parecia não se importar com tamanha crueldade. Cantava uma música sertaneja. Puxava assunto com os passageiros do banco de trás, enquanto eu chorava escondida atrás dos meus óculos pretos.

Você estava na minha cabeça. Talvez por isso a importância do massacre das borboletas. Nós estávamos em lados opostos. O caminho escolhido despedaçava qualquer desejo de sobrevivência.  De repente, as minhas esperanças eram aqueles pequenos insetos coloridos. E você, um imenso pára-brisa.

O choque era inevitável. A mesma borboleta que alegrava a estrada me matava no instante seguinte. Esparramada naquele táxi no interior do Acre, cercada de pasto por todos os lados, assistia uma guerra não declarada. Você e teus quereres. Eu e as minhas borboletas.

quarta-feira, novembro 10, 2010

" você está olhando nesse instante para outra mulher, está entrando nela, dizendo a ela como ela é gostosa, você está me matando dentro de você, e eu morro quilômetros de distância, a sós comigo mesma, você transa com outra e me mata, você goza e me mata mais um pouco, você dorme e me deixa insone para sempre, eu sei que não vai ser pra sempre, mas eu não enxergo o dia de amanhã, hoje eu só estou acordada pro eterno desse pesadelo, você era meu, droga, exclusivamente meu até dias atrás, meu como esse sofrimento." 

Martha Medeiros - livro Fora de Mim

segunda-feira, outubro 25, 2010


Eu deveria falar dessa dor que se instaura dentro de um peito semi-preenchido. Da necessidade plena de andar descalça. De doar aos pés, os novos caminhos e areias intocadas. Gostaria de beijar a anarquia. Falar do meu egoísmo, do meu medo do correto e do receio da inércia emocional. Queria aceitar as partes estranhas de um todo quase vazio. Sentir a pele do meu dono, o cheiro ainda não saiu do corpo. Explicar que o suspiro vale mais que a certidão de casamento. Hoje, eu deveria pichar em todos os muros: o destino é o acaso de Deus. 

sexta-feira, outubro 22, 2010

pequenas notas sobre a solidão

a
No Rio de Janeiro, ela está:

(   )Envergonhada; 
(   )Em cativeiro; 
(   )No mar gelado;
(   )Disfarçada de Photoshop;

Em São Paulo, ela está:

(   )Perdida na falta de tempo.
(   )Perdida na falta de espaço.
(   ) Onde a garoa molha. 
(   )Presa num engarrafamento.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Me dá um abraço curto, enquanto impõe as regras. Fresco, rápido e com sotaque. Exige uma felicidade bronzeada. Apresento meu sorriso seco e amarelo. Ele coloca a minha mala no carro. Não me dá tempo para respirar a sua umidade. Aqui, o andar é descompromissado. Há um dicionário de nomes em placas azuis nas entradas das ruas. Eu não entendo de letras, a minha poesia é numerada.

Sou bicho do mato, da terra vermelha.  

Meus olhos sugam essa paisagem misturada. Ela é velha, ela é nova. A minha carona fecha o vidro quando paramos no sinal vermelho.  “É melhora assim. É preciso ter cuidado.” De frente, por trás da película, eu ainda encaro a sua face. E os sedutores braços abertos. 

quarta-feira, setembro 22, 2010

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."


Os Três Mal-Amados - João Cabral de Melo Neto

sexta-feira, setembro 10, 2010

(des)esperar - hoje!

Engraçado. Quando eu era pequena, sonhava em apresentar no Teatro Nacional. Não é que demorou, mas o dia chegou? Hoje, a Andaime Cia de Teatro apresenta (des)esperar na Martins Pena no Festival Mulher em Cena. Apareça e comemore comigo!  =]

ps: clique na imagem caso não conseguia ler...
ps2: a entrada é um pacote de absorvente!

sexta-feira, setembro 03, 2010

Versão Final


Quantas outras pessoas devem estar, nesse momento, conectadas? Somos apenas mais duas almas estranhas ligadas por uma rede lotada em pontos diferentes no meio do globo terrestre. Você, que teve seu cheiro lambido por mim, agora é uma imagem bidimensional na tela do meu computador.

A pele enlouquece a razão. Um email, uma mensagem, o apito do skype. Ela espera velada que o mesmo furacão invada a sua vida por aqui. Já ele, escondido na madrugada, deixa a mulher no quarto vazio e caminha nas pontas dos pés para o seu encontro.

Ao chegar a coloca em silêncio. Depois de quatro, de lado, de cabeça pra baixo. Escancara o amor dilacerado. Pede que ela navegue a câmera pelo corpo. Ela obedece. Sempre faz tudo que ele quer. É a tua gueixa, tua outra parte.

Lentamente exponho meus hematomas. Digo o quanto o amor tem me enlouquecido. Eu choro. As minhas lágrimas têm um gosto quente. Ele fala qualquer coisa como: colocar no colo, deitar sobre o seu peito, beijar a minha boca. Ele me mostra o seu pau duro. Diz que fica assim, toda vez que se lembra de mim. Tomo mais uma dose de whisky. Eu tiro a blusa, depois a calcinha. Fecho os olhos e escuto a tua voz preenchendo o meu quarto.

O cheiro dele reaparece entre as suas mãos. Em uma movimentação suave, os dedos dela desenham a boca. Percorrem o pescoço. E chegam ao meio, entre os seios. Opta pelo direito. Mostra a tal pinta escondida. Encostada ao bico, a sua pinta favorita, aquela que batizou com o nome dele. Não para de olhar para tela. Seus olhos encaram o homem que escorreu dessas mesmas mãos para o outro lado do mundo.

O gosto dele alimenta o seu sexo. Ela observa atentamente os teus movimentos rápidos e contínuos. Tem raiva dessa situação. Pede para que pare. Ele não consegue entender as suas idiossincrasias. Eram as mãos dela que deveriam benzer e massagear o seu ego. E não aquelas outras, as dele.

Sou a tua puta projetada a 11650 km de distância. Levo o laptop para o banheiro. Posiciono a pequena câmera e ofereço um banho. Derramo todos os líquidos. Numa seqüência clichê, eu me exibo pra ele. Troco qualquer certeza por esse homem. Os teus olhos embaralham as minhas lembranças.

Ele sempre oferecia uma dose. Dificilmente, ela aceitava. Gostava de beber no copo dele, como se o melhor condimento fosse sua saliva deixada na bebida. Quantas madrugadas eles brindaram juntos? Hoje ela bebia aqui, ele bebia lá. O whisky tinha sido presente dele. Era mais um dos agrados que ele deixara. Pequenos mimos espalhados pelo na tentativa de tornar presente o impossível. Como o perfume que ela passava todos os dias desde a despedida. Uma gota em cada lado do pescoço, depois nos pulsos, no colo. Cheirava longamente aquele aroma do seu homem.

A água era misturada com desejo. Meus dedos são conduzidos por suas palavras. Um, dois, três. Os movimentos são transmitidos pela web cam. Repetidamente, eu suspiro o seu nome. Para que apareça, para que ele se descole da tela, para que me preencha de vida novamente. Tem um olhar desesperador, o pau ainda duro. Troco o chuveiro pela cama. Continuamos incansáveis. Ele também chora, mas prefere disfarçar. Diz que me ama. Que tudo vai dar certo. Boca seca, o coração trêmulo. De alguma forma, ainda somos os mesmos. E assim, com mares de distância, ironicamente, nós gozamos juntos.

Você acredita em amores intransponíveis? Ele dedilha a sua covardia no piano, ela canta uma esperança remota. É tarde demais.

quinta-feira, setembro 02, 2010

quarta-feira, setembro 01, 2010


 cabelos guardam lembranças 
   

metade

Ele me coloca em silêncio. De quatro, de lado, de cabeça pra baixo. Ele escancara o nosso amor. Pede que eu navegue a câmera pelo meu corpo. Eu obedeço.  Sempre faço tudo que ele quer. Sou a tua gueixa, tua outra parte.

Lentamente exponho meus hematomas. Digo o quanto o amor tem me enlouquecido. Eu choro. As minhas lágrimas têm um gosto quente. Ele fala qualquer coisa como: colocar no colo, deitar sobre o seu peito, beijar a minha boca. Ele me mostra o seu pau duro. Diz que fica assim, toda vez que se lembra de mim. Tomo mais uma dose. Eu tiro a blusa, depois a calcinha. Fecho os olhos e escuto a tua voz preenchendo o meu quarto.

O nosso cheiro reaparece entre as minhas mãos. Em uma movimentação suave, os meus dedos desenham a boca. Percorrem o pescoço. E chegam ao meio, entre os seios. Opto pelo direito. Mostro a tal pinta escondida. Encostada ao bico, a sua pinta favorita, aquela que batizei com o seu nome. Não paro de olhar para tela. Meus olhos encaram o homem que escorreu dessas mesmas mãos para o outro lado do mundo. 
  
O gosto dele alimenta o meu sexo. Eu observo atentamente os teus movimentos rápidos e contínuos. Tenho raiva dessa situação. Peço para que pare. Ele não consegue entender as minhas idiossincrasias. Eram as minhas mãos que deveriam benzer e massagear o seu ego. E não aquelas outras, as dele.

Sou a tua puta projetada a 11650 km de distância.  Levo o laptop para o banheiro. Posiciono a pequena câmera e ofereço um banho.  Derramo todos os líquidos. Numa seqüência clichê, eu me exibo pra ele. Troco qualquer certeza por esse homem. Os teus olhos embaralham as minhas palavras.

A água é misturada com desejo. Os dedos são conduzidos por suas palavras.  Um, dois, três. Os movimentos são transmitidos pela web cam. Repetidamente, eu suspiro o seu nome. Para que apareça, para que ele se descole da tela, para que me preencha de vida novamente.

Tem um olhar desesperador, o pau ainda duro. Troco o chuveiro pela cama. Continuamos incansáveis. Ele também chora, mas prefere disfarçar. Diz que me ama. Que tudo vai dar certo no final. E por ironia do destino, gozamos juntos. 

Obs: Esse conto ainda não está finalizado, mas fiquei com vontade de postar essa parte aqui. Talvez em 3ª pessoa também. Espero que ele esteja inteiro até o meio de setembro... 

sexta-feira, agosto 20, 2010

Não seria maravilhoso, se ao passar no eixão, não houvesse mais aquelas infames propagandas políticas? Hoje, ao voltar pra casa, a minha vontade era de atirar um tomate em todas aquelas plaquinhas. Cada poste, eu tomava um susto. O espaço vazio infestado de monstros urbanos. Até quando iremos aceitar essa montanha de lixo na nossa cidade?      

sexta-feira, agosto 13, 2010

concreto






     dê     dê     dê     dê      




es     es      es      es     es     




pa     pa     pa    pa     pa     



             
ço     ço      ço     ço     ço     




ao     ao      ao     ao     ao     




tem  tem  tem  tem   tem  



po     po      po     po     po     



Homenagem ao terrorismo poético realizado no Eixo W norte. Me fez desacelerar, fazer dois balões, e apreciar novamente as sílabas e o tempo.      

quarta-feira, agosto 11, 2010


melancolia s. f.
tristeza profunda e duradoura. 
vontade de desistir.
cansaço da saudade.


I - O FOGO
O sol, desrespeitoso do equinócio
Cobre o corpo da Amada de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pêlos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.
E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
De modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.
E pego, encaro o Sol com ar de briga
Ao mesmo tempo que, num desafogo
Proibo-a formalmente que prossiga
Com aquele dúbio e perigoso jogo...
E para protegê-la, cubro a Amada
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.
Vinícius de Moraes 

quarta-feira, agosto 04, 2010




Postar uma palavra minha. Qualquer uma. Usada, estranha, ingênua. Não importa. Apenas uma palavra que resumisse todo esse capítulo. Deveria estampar ela aqui, em letras maiúsculas, para meus poucos leitores, um pedaço sibilado de mim. 

Para ver todas as fotos, acesse o meu Flickr.

segunda-feira, agosto 02, 2010


Hoje, eu completo 10 mil dias de vida. Uma comemoração deliciosa. Acabei "O amante", da Marguerite Duras, acho que agora, posso enfim, começar a escrever o meu primeiro romance. Segue um trecho do livro para inspirar possíveis leituras:


"Ele deve ter passado muito tempo sem poder dormir com a mulher, sem dar-lhe o herdeiro das fortunas. A lembrança da menina branca devia estar lá, deitada, o corpo atravessado na cama. Deve ter sido por muito tempo a soberana do seu desejo, a referência pessoal de sua emoção, da imensidade da ternura, da sombria e terrível profundeza da carne. Depois chegou o dia em que afinal isso deve ter sido possível. O dia que o desejo da menina branca foi tão forte, a tal ponto intoleravel, que ele conseguiu encontrar outra vez sua imagem inteira, como numa enorme e intensa febre, e penetrar a outra mulher com todo esse desejo, o desejo da menina branca. Deve ter-se reencontrado pela mentira dentro daquela mulher e, pela mentira, deve ter feito o que as famílias, o Céu, os ancestrais do Norte esperavam dele, ou seja, um herdeiro do nome."



sexta-feira, julho 30, 2010



"Assim, no entanto, você pôde viver esse amor do único jeito que era lhe possível, perdendo antes que ele acontecesse."


Marguerite Duras 

segunda-feira, julho 26, 2010

Tulipa


Essa é a minha faixa favorita, mas aconselho apreciar o cd inteiro!Tulipa. Tulipa. Tulipa. Para baixar clique aquiPra quem quer conferir antes, myspace dela:
http://www.myspace.com/tuliparuiz

...

Às vezes, ao acordar, ela sentia beijo e começava a sua doação dos primeiros suspiros matinais. Então de olhos fechados, continuava imaginando-o ali, sobre teu corpo recém desperto. Tuas mãos entrelaçam seus cabelos, os olhos se enchiam de algo indefinível. O gozo diário em sua boca. O beijo dele era seu café da amanhã. Era nesses dias, exatamente nesses, que ela ficava mais tempo na cama, dedilhando a saudade.

domingo, julho 25, 2010

Dia Fora do Tempo


Feliz Ano Novo Maia!  No Calendário da Maia, hoje nós estamos no "Dia-Fora-do-Tempo".  Essa contagem do tempo baseia-se em 13 ciclos lunares de 28 dias por ano solar, perfazendo 364 dias, mais um chamado de ‘Fora do Tempo’, entre o Ano Velho e o ano Novo.

O Calendário da Maia permite sairmos da frequência artificial para a sincronicidade da Lei do Tempo e a frequência natural 13:20, que rege o nosso Sistema Solar e toda a Galáxia. A calendário é uma medida de exactidão biológica da órbita do nosso planeta ao redor da sua estrela, o Sol. É um padrão de medida perfeito que coordena e sincroniza as fases da Lua com os ciclos galácticos e o tempo.

Hoje, temos uma grande oportunidade de reciclar, recomeçar, recarregar as energias, libertar o que já não é mais preciso, agradecer por tudo o que foi recebido no período anterior em todos os aspectos.

No dia 26 de Julho recomeça um novo ciclo com o nascimento astronômico de Sirius, que se eleva no horizonte juntamente com o Sol, trazendo uma energia de limpeza e purificação interior, trabalhando os nossos corpos subtis, principalmente o emocional. Esse novo ciclo será regido pela Lua (Lua Planetária Vermelha) estimulando a necessidade de limpar a casa, relacionamentos, pensamentos, medos, culpas, tristezas, magoas e dando início ao novo ano que entra.

Muitos acreditam que seguindo este calendário estaremos a mudar a nossa frequência e participar da campanha para um novo tempo, o tempo real da harmonia e da Paz, onde o tempo deixa de ser dinheiro para ser arte. Acho a filosofia desse calendário maravilhosa. Verdade ou não, comemoro o Dia Fora do Tempo. Esse ano não teve festival no maranhão, mas a saudade ilumina todos os que tiveram oportunidade de conhecer aquele pedaço de paraiso. Segue a foto tirada por uma pessoa muito amada, na manhã fora do tempo de 2009.

Sucesso pra gente nesse novo ciclo.

sábado, julho 24, 2010

Precipitar no abismo.Assombrar. Cair no abismo; afundar-se. Concentrar o pensamento. Maravilhar-se. Morrer de amores.

quarta-feira, julho 21, 2010

Marguerite Duras

Dormi aos braços dela, ontem. Os livros são incansáveis. Eu devorei todas as letras antes que o sono chegasse. Nome da obra culpada: A doença da morte. Um homem, uma mulher e tudo o que isso pode gerar. A autora adiciona meus ingredientes favoritos. É erótica, poética. Consegue expressar o real poder do sexo. Sem dissociar o mesmo do amor. Ela quebra com  essa dicotomia ridícula entre os dois campos. Quantas pessoas começaram a amar depois de submergir no melhor da alcova? Ao meu ver, o sexo move montanhas intransponíveis. Ele pode ser responsável pelo maior amor da sua vida. Como aquele ditado popular: " Amor de pica, quando bate fica."  Mas enfim, cabe a cada qual definir as tuas prioridades. Segue um trecho maravilhoso da minha nova amada:"Você queria ver tudo de uma mulher, tanto quanto possível. Você não vê que isso lhe é impossível. Você olha a forma fechada. Você vê primeiro os leves frêmitos se inscreverem na pele, justamente como os do sofrimento. E logo depois as pálpebras tremelicarem como se os olhos quisessem ver. E logo depois a boca se abrir como se a boca quisesse dizer. E logo depois você percebe que debaixo das tuas carícias os lábios do sexo incham e que do seu veludo sai uma água visguenta e quente como seria o sangue. Você percebe que as coxas se afastam para deixar a tua mão mais à vontade, para que você faça tudo melhor ainda. E de repente, num gemido, você vê o gozo chegar a ela, arrebanhá-la inteira, soerguê-la da cama. Você olha com muita força o que acaba de executar nesse corpo. Você o vê em seguida tornar cair, inerte, sobre a brancura da cama. Ela respira depressa com sobressaltos cada vez mais espaçados. E depois os olhos se fecham ainda mais, e depois eles se abrem, e depois se fecham. Eles se fecham."
...

segunda-feira, julho 19, 2010

O teatro é algo sublime. É um diálogo verdadeiro entre as duas partes, artista e público, que comungam na arena. É engraçado que não podemos medir a dimensão do nosso discurso, já que cada espectador tem uma estória de vida e recebe as palavras da sua maneira. Ontem, após a apresentação do (des)esperar, conheci o Sr. Joel Cavalcante. Um velhinho brincalhão, como ele mesmo se caracterizou, que compareceu no camarim para me presentear com um poema. Um pequeno retrato de mim. Paredes, espera e poesia. Adorei a delicadeza. Segue o poema carinhoso:

O OLHO DO CORAÇÃO EMPAREDADO NO GELO






                       Para Patrícia Del Rey



                       Joel Cavalcante

Olhar a mulher que é
E não o que fala
Importa

O que fala não tem importância
As palavras são mortas no céu da boca
Nas dúvidas dos próprios pensamentos

Mais do que parece ser
Tem importância o que parece poder dar
Até mesmo dando a aparência de negar
Pelo suspense
Para valer mais
Mas...
Pelo mais e pelo menos
Já está dando muito mais do que pensa
Simplesmente por ser mulher
Feita pelo amor

Feita pelo amor...
Feita para o amor...
Será que poderia existir
Será que poderia ser mulher
Sem amor?

A mulher sem amor
É uma parede de olhos
Fria fria fria
Sem vestido vermelho
E sem alma

Olhei...
Você se mostrava
Mulher mais do que falava
E a fervura de sua vida disse
Para um coração emparedado no gelo
Que estou friamente morto
Uma parede de olhos sem faísca
E até pintado de vermelho continuaria transparente

Você está carne
Viva viva viva
Viva de sol brilhando
E eu do outro lado da vida sem estar do outro lado da vida
Olhando sem frêmitos e sem pulsações
Em uma pele de resignações
Estou um olho a mais na montanha de olhos

A carne é um céu cheia de espasmos
E gritos de tanto prazer que chega a doer
Dói como se estivesse morrendo
Não estar mil vezes mais vivo a cada momento
Na panela de pressão prestes a explodir flores
Até a primavera ejaculada da terra

A sua carne viva diz...
O que diz para todo não morto
Mas o que ela diz
É o que ninguém sabe antes de acontecer


Pra quem não viu a peça, ainda teremos duas apresentações no Teatro SESC Paulo Autran em Taguatinga.  Dias 22 e 23 de julho, as 20 horas, entrada franca. Apareçam! =]