sexta-feira, maio 01, 2015

Lá dentro, submersa. Gemido. Peso. Embaixo dos corpos, olhos fechados, aconchego. O contato, o friccionar. Vai doer – pensava. E não vai demorar muito para que acabe. Abro os olhos. É tesão, é ansiedade. Fecho os olhos de novo. Pra tentar manter aquele instante, como numa fotografia, pra sentir ainda mais um pouco a pele, o suor, no sonho. SE CONCENTRA, PORRA! Alguém dá um tapa. Gosto do som das palmadas, as mãos quentes. Começam a pressionar ainda mais, pesar nas partes específicas. Respirações aumentam. Eu, no meio. Partes encaixadas. ABRA OS OLHOS! Agora estou esmagada, com a cara no chão. Só que a tal força ainda não machuca, os corpos acariciam. VOCÊ TEM QUE SAIR DAÍ ! SAÍ, ANDA! Começo os movimentos, gemo, dou uns gritinhos, empurro os corpos, o chão, o medo, a dor. De quem são essas pernas frias e ásperas? Aos poucos, me desprego daquela massa amorfa de cheiros. Liberdade do primeiro, depois o segundo, parece fácil, mas não é. O desapego doí. Grito um pouco mais. Os últimos gemidos. Eles são retirados. A cabeça, os ombros, o pau, as costas, os braços, a cintura, as coxas, a buceta, as pernas, os pés, os seios. Não resta mais nada. É lembrança. O chão está frio. O vento percorre a sala. Escuto uma única respiração sôfrega, a minha.