terça-feira, abril 26, 2011

No rosto. Na pele. Visível a olho nu.




Ontem retirei o meu pedaço mutante. Alocado no rosto, na região da bochecha, por dois longos anos. Aquele que me acompanhou em todos os gozos, em todos os mergulhos ao mar. Meu câncer disfarçado de pinta. Tantas vezes espremido em frente ao espelho e coberto de base para noites picantes.  

O que é um câncer? Apenas certa quantidade de células rebeldes, que de uma hora para outra, decidem mudar de cargo. Subir de posto. Desafiar o Rei. Para chamar a atenção, elas se reproduzem. Espalham-se pelas entranhas. São como os pequenos focos de paixão, a gente só percebe quando todas as partes já estão contaminadas.

Ao descobri a minha companhia oculta, eu tinha acabado de escrever um texto comparando a necessidade de matar uma paixão e a retirada de um tumor. Era como se as minhas letras tivessem previsto a minha doença.  Eu fritei durante madrugadas. Porque eu estaria com câncer de pele? O que eu tinha feito de errado? Era só uma questão de protetor solar? Ou seria uma doença psicossomática?

Li um artigo que relacionava o câncer com as questões afetivo-emocionais. O autor explicava que os sentimentos impregnavam nas nossas células, e que esses poderiam gerar a proliferação de células defeituosas. Era como se a pessoa enviasse uma mensagem para o sistema imunológico ordenando que a doença fosse criada para resolver o problema afetivo.  

Não sou uma pessoa cética e tenho orgulho desse fato. Seria mais fácil fingir que o sol me condenou a essa ferida, mas sou inteligente o bastante pra entender os meus aspectos emocionais destrutivos. A minha competição velada, a vaidade desmedida. Meu ego gigantesco. A escolha pela mágoa de amores desconcertantes. O excesso de lágrimas misturadas com doses de conhaque. Eu não sou santa, baby.

No rosto, na pele e visível a olho nu. Ontem ele foi retirado. Disse: Adeus. Agora está tudo bem. Terei uma cicatriz de lembrança, de brinde. Eu não me importo. Cicatrizes são charmosas. Vou ficar ainda mais sexy. O fundamental é entender que a escolha da felicidade - somente ela - é o melhor antídoto para mim.   

segunda-feira, abril 18, 2011

tesoura

Parece-me que todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralisias, porque já não ouvimos viver nossos sentimentos que se nos tornaram estranhos; porque estamos sós com o estrangeiro que nos veio visitar; porque, num relance, todo sentimento familiar e habitual nos abandonou; porque nos encontramos no meio de transição onde não podemos permanecer. Eis por que a tristeza também passa: a novidade em nós, o acréscimo, entrou em nosso coração, penetrou no seu mais íntimo recanto. Nem está mais lá - já passou para o sangue. Não sabemos o que houve. Facilmente nos poderiam fazer crer que nada aconteceu; no entanto, ficamos transformados, como se transforma uma casa em que entra um hóspede. Não podemos dizer quem veio, talvez nunca o venhamos saber, mas muitos sinais fazem crer que é o futuro que entra em nós dessa maneira para se transformar em nós mesmos, muito antes de vir acontecer. Por isso é tão importante estar só e atento quando se está triste. 

Rainer Maria Rilke

sexta-feira, abril 15, 2011

...

Os homens que não fazem sexo pela manhã deveriam ser destituídos dos seus cargos conjugais.

quinta-feira, abril 14, 2011

...



Dança, a carne viva.
Despela. Descolore. Despedaça.
A superfície, a casca.
Desvela. Descobre. Desbota.
A pele seca, morta.
Desinibe, desfruta, decora.
A dor, de rosa cor.

Percepção das atrizes em relação a autora

É difícil ser julgada, analisada. Entender a nossa imagem aos olhos dos outros. Não temos certeza das coisas que realmente passamos com as nossas palavras e ações. Tive a oportunidade de ter a minha obra discutida pelas atrizes da Andaime em uma reunião do Poéticas Urbanas. Eram cinco mulheres discutindo sobre meus textos, enquanto eu permanecia apenas escrevendo sem poder comentar uma frase sequer. O resultado foi esse texto esquizofrênico e interessante. 

Intensidade, sangue e corroer. Tudo é romance. É a forma que ela consegue digerir aquele fato. Ela conceitua tudo. O cafajeste, a menstruação. Ela é explicativa. Isso é uma característica. Muitas vezes é adolescente. São temas adolescentes. Por ser extremista, intenso demais. É atmosfera. A autora começa a desenvolver todos os conceitos. Eu não diria que é um adolescente que está escrevendo pela qualidade dos textos. Há uma maturidade na escrita. Nostalgia de algo que nunca aconteceu. Parece que aconteceu, mas nunca aconteceu. Paraíso perdido. Uma ilusão. É importante traçar um perfil da autora através da obra dela. Já pra mim, é real, crível, verdadeiro. Pela intensidade que ele passa. É preciso ficar em cima desse texto, ele trás grandes características já. O estudo de cada texto escolhido. Temos a vantagem de poder perguntar a ela. Ela justifica a vida dela através da escrita. Não importa se viveu, ou se não viveu. Pra mim, isso não importa. São muitos textos com muitas personagens. Eu acredito que a maioria das estórias ela tenha vivido. Que a criação é do que ela viveu. Eu acho que ela olha pra tudo de um jeito romântico. É infantil? Se ela não viveu, ela é uma puta autora. Se ela viveu, ela apenas quer fazer terapia pela internet. Escrever sobre a vida dela. O autor sempre está na obra, querendo ou não. Se ela viveu porque ela escreve? Será que ela acha que vai mudar o mundo? O que ela deixa pra os leitores? A autora romanceia algo. Que coisas dela me interessam?  Ela foge do que é. Uma revolta burguesa. Acha que o mundo é um caos, quando na verdade é cotidiano. Sofre com um problema que nem existe. Essa figura facebook. Da geração. Que se abre, que quer mostrar a sua intimidade. Muito corajoso. O pai da Paty lê o blog dela? Tá lá. Tá no mundo. É super contemporâneo. Tem um trabalho de pesquisa. Tem um conceito. É um trabalho artístico. Ela tá inserida, ela é contemporânea. Você consegue saber o que ela prefere. Assumir essa data. É uma forma bem particular, que se rasga. Ela se rasga em todos os sentidos. É um personagem, não é a Patrícia. É o corpo virtual. É o avatar. Onde ela se conecta. Eu jamais colocaria uma foto minha nua na internet. Ela se alimenta dos relacionamentos para escrever. Existe uma relação só pela internet, uma relação só pessoal, existe um mix das duas. Tem o anônimo. Esse anônimo é presente a todo momento. Se ele fosse nominado, ele deixaria de ser esse amor, essa poesia. Essa personagem busca esse anônimo, ele não pode aparecer. O anônimo é a hora que ela abre para ele aparecer. O anônimo é presente na estória. Ele só existe porque se identifica com a estória. Se você posta na internet, você está escrevendo para vários anônimos. Se fosse um filme, seria de personagem com peripécias. Eu acho que é um personagem intenso, mas não tão interessante. Já eu vejo várias personagens. Gente, quem nunca teve um pêlo encravado? - E todas  as atrizes começaram a olhar os seus cabelos encravados.

segunda-feira, abril 11, 2011

Síntese



A separação. Ela debruçou as lágrimas no volante. Gritou pelas entranhas. Parou o carro na subida da ponte. Escalou as escadas correndo. Pensou em se atirar de lá. Acreditou que, no dia seguinte, ele não estaria mais em Brasília. Que iria pegar o vôo e sumir da cidade. Teve a certeza que a sua vida perdia um pouco de sentido depois daquele abandono. Talvez ela jamais fosse feliz novamente.

O casamento. Havia convites espalhados da celebração via internet. Uma cerimônia íntima na casa da noiva. Lágrimas, alegria, festa, bolo e champanhe. Em Brasília, o casal festejava. Os amigos de trabalho orgulhavam do seu novo passo. Ele havia escolhido a companheira ideal. Assinada no cartório, protocolada e com direito ao aumento no salário. Eram as convenções habituais para homens da sua estirpe.

O personagem gozou 365 dias com as duas mulheres. Dividiu o seu pau gigantesco de forma solidária e viril. Proclamou milhares de “eu te amo” para as suas destinatárias. Entendeu as peculiaridades de cada uma. Omitiu por egoísmo, pra poupar sofrimentos desnecessários. Fez a escolha que esperavam. Separou da amante num dia, casou com a noiva no outro. Tinha a cabeça no lugar e o coração despedaçado. Definitivamente, era um homem comum. 

quinta-feira, abril 07, 2011

"Talvez venha significar que o senhor é chamado de artista. Nesse caso aceite o destino e o carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou."


Rainer Maria Rilke

01:23

Saturno Conjunção Ascendente.

Este é um dos trânsitos mais importantes de sua vida. Ao longo deste período suas responsabilidades aumentarão consideravelmente, levando-a a eliminar tudo aquilo que não for indispensável. Por isso, sua vida ficará ao mesmo tempo mais simples e mais complexa. Você estará finalizando certas coisas e entrando num período de cerca de cinco a oito anos de preparação relativamente calma para um novo início. Enquanto abandona certas coisas, se esforçará bastante para concluir outras. É possível que durante este trânsito você tenha menor liberdade de movimentos que de hábito, devido à pressão das circunstâncias e à necessidade de finalizar as coisas. Velhas pendências encontrarão solução agora. Talvez o trabalho lhe exija mais esforço que habitualmente, pois seus chefes podem atribuir-lhe mais responsabilidades do que você desejaria. Embora não seja exatamente leve e descontraído, o período deve ser bem produtivo. Entretanto, evite iniciar agora projetos totalmente novos, pois dentro de poucos anos talvez chegue à conclusão de que não dispõe dos recursos materiais ou psicológicos para finalizá-los. Termine o que começou e simplifique sua vida. Os relacionamentos válidos não sofrerão grandes abalos, mas os que não o forem se romperão completamente agora. Você estará tentando livrar-se de tudo que não for necessário ou benéfico a seu desenvolvimento nos próximos anos. Os relacionamentos difíceis e complicados serão provavelmente descartados.Procure não construir uma barreira entre você e os outros, pois há um grande risco disso acontecer agora. Os deveres, obrigações e responsabilidades não excluem os relacionamentos satisfatórios, embora você possa pensar o contrário. Caso se isole das pessoas desnecessariamente, acabará ficando só e deprimida. As pessoas que fazem parte de seu cotidiano serão muito importantes neste momento, principalmente porque você provavelmente excluirá as que não fazem parte dele. Talvez encontre em pessoas mais velhas o entendimento e a percepção de que precisa agora.


Eu adoro o astro.com, super recomendo. Pra quem acredita nas estrelas, essa é a melhor opção. Experimente e seja feliz. =]

segunda-feira, abril 04, 2011


Tomar remédio na veia. Beber três doses de saquê. Chorar na frente do computador. Queimar a mão inteira com água fervente. Escrever frases na calçada. Me equilibrar nas pontas dos dedos. Gozar no banheiro da festa. Aceitar o tempo das bolhas. Observar o sangue na seringa. Descascar a pele antiga. Abraçar todas as minhas novas cicatrizes.