segunda-feira, fevereiro 16, 2009

estamparias de azulejos

Azulejos de Athos Bulcão
Acordei com dor de cabeça. Passei os olhos desatentos sobre o jornal. Tomei um café frio e comi o pedaço, igualmente frio, de uma pizza de ontem. Era tarde. Havia louça por lavar. Havia roupa por estender. Havia comida por fazer.

Preferir o silêncio da chuva rala que molhava a janela.

A ausência se fazia presente em cada tom dos azulejos azuis dessa cozinha, por arrumar. E eu não entendia você.

Encostado no balcão, com as ironias de sempre, de braços abertos, pedindo poesia pra sobremesa. Uma letrinha qualquer, uma rima solta. “Apenas mais um gole do nosso passado que estar por vir, querida.”

Metáforas são pimentas nos olhos. O tempo nem sempre escorre pelas beiradas. Às vezes, um amor não passa. Deixa desejos que pulsam entres os olhares escondidos num bloco de carnaval carioca.

Você sabia que eu não gostava do sorriso dela. Era falso, exagerado, estranho. Aquelas mãos de dedos finos e brancos apresentavam um cheiro de anticéptico irritante. Politicamente correta, a tua perfeita.

Enquanto nesse tempo todo, ela tinha a chave da casa, eu tentava arrombar sua janela. E agora, você decide virar estamparia do meu azulejo?

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Meu 1º Conto Erótico

Era quarta-feira. Um dia antes de começar o carnaval. E nossos corpos estavam sedentos de toque, suor, cachaça. A fantasia ficou pronta às duas da tarde. Éramos oito mocinhas fantasiadas de biquíni preto de bolinhas brancas. Num visual retro bem moderninho, seguíamos a procura de um bloco pré-carnavalesco que sairia na Praça General Osório.

Engraçado que ao encontrar a folia, já três das bolinhas foram abduzidas por uns marinheiros do Rio Grande do Sul. Eu e as outras continuamos a nossa caminhada entornando caipirinhas, beijando desconhecidos e cantando marchinhas de carnaval.

Na metade do bloco, começou a cair o céu. Era água para todos os lados, a gente nadava e se amassava com qualquer um. Lembro que estava aos beijos com um palhaço carioca, quando a mão da Carol me puxou e entramos as duas em um pub irlandês. A Carol ainda não tinha desenvolvido a técnica de fazer xixi em qualquer lugar, e achou que a Irlanda seria uma boa opção.

Ao entrar no bar, encharcadas e com um palmo de tecido preto de bolinhas brancas, cobrindo o corpinho, viramos alvo de todos os olhares da platéia. O bar estava atolado de gringos branquelos, casalzinhos sem sal e um barman delicioso.

Enquanto a minha amiga correu para sua redenção, eu tratei de sentar no balcão e pedir uma caipirinha de morango com gengibre. Adoro gengibre e todas as suas variações. O barman delicioso amassava as frutinhas, enquanto eu jogava charme fazendo perguntas idiotas.

Tinha um sotaque de paulista e um corpo super definido. "Quantas horas ele devia perder na academia pra ficar daquele jeito? Um homem desse só serve pra trepar mesmo... Alias deve ter um fôlego! ". Tenho que admitir que depois das várias doses entornadas no tal bloco de carnaval, antes de chegar à Irlanda, fez com que esse fato, de só saber trepar, já me deixasse bem atiçada.

Meu drink ficou pronto, minha amiga chegou. Rapidamente, Carol foi convencida pela bunda de Rodrigo (ou seria Marcelo?) que devíamos esquecer o lamaçal carnavalesco e nos mantermos ali, assediando a apetitosa caipirinha da noite. Descobrimos no terceiro copo que Marcelo (ou seria Rodrigo?) tinha se mudado para o rio há dois anos, era formado em direito e acabava de romper um namoro conturbado com uma menina qualquer. Nosso barman gostoso estava triste de dá dó, e nós duas, subindo pelas paredes.

Algumas horas depois estávamos íntimas da nossa presa e ela fazia questão de não demonstrar preferência por nenhuma de nós. Atenciosa, jogando charme e entupindo a gente de cachaça, a noite foi passando depressa. De repente, só estávamos eu e Carol no pub. Uma moça acabando de passar o pano no chão, e os garçons indo embora. Rodrigo (ou seria Marcelo?) tinha a obrigação de trancar o estabelecimento e pediu pra gente esperar.

Puxei minha comparsa num canto. O que faríamos com um homem daquele tamanho, e ainda por cima carente? Sugeri a divisão de irmã. Tinha certeza que ninguém ia sair no prejuízo, mas Carol era avessa a mulheres. Era daquelas pessoas que morrem de vontade de experimentar, mas não tem coragem de dar o primeiro passo. Expliquei que isso era uma bobagem, ainda mais depois da quantidade de álcool que tínhamos no sangue. "Pra que pensar no amanhã, quando o hoje tá de pernas abertas?"

Às vezes acho que devia ter sido publicitária. Joguei um pouquinho da minha filosofia barata de boteco e Carol estava convencida, apenas me pediu para eu manter a minha boca longe. "Nada de lambeções!", disse meio que nervosa, meio que excitada. Bom, dei uma risada e continuei o plano.

O Marcelo voltou da cozinha e pediu pra gente fechar a conta. Pagamos a bagatela de 45 reais e 72 centavos. Ainda bem que a chuva não tinha molhado o meu cartão de crédito. A medrosa da Carol começou a se despedir de Rodrigo, e eu via a chance do ménage à tróis dos sonhos escorrer pela privada. Precisava fazer algo muito rápido. Foi aí que soltei o convite pra esticarmos a noite no meu apê alugado em Copa. O Barman olhou pra mim com os olhos brilhantes. E cinco minutos depois, estávamos andando os três pelo calçadão.

Chegamos à minha pequena casa. Mais vodca, jazz na vitrola e um sofá de couro branco. Surpreendo Carol com um beijo, Rodrigo enfia a tua língua dentro da gente. As mãos começam a dançar sobre os corpos e, as nossas fantasias de bolinhas enfeitam o chão. Três corpos nus, destituídos de regras e cobertos de vontades. Orifícios são lambidos, peitos abertos, mordidas aprovadas.

Uma língua macia me lambe, outra certifica meu batimento cardíaco. Beijos são trocados numa variação rítmica intensa. Meus dedos dialogam com os segredos de Carol, a minha boca busca sugar todo gosto de Marcelo. Minha alma pertence ao infinito. Entradas, saídas, encontros, despedidas. Tudo parece rodar sobre as nossas cabeças, naquele pequeno apartamento. O suor transforma um corpo em algo leve, liso e altamente adaptado ao outro corpo. Ao outro não, aos outros. Acendesse um incenso hedonista, que abarca todos os cheiros e recheios daquela sala.

Em pé, no meio, entregue. Ela beijava os meus lábios, meus ombros e meus seios. Ele lambia a minha nunca, mordia as minhas costas e me chupava incansavelmente. Fui desmontando até o chão, e aquelas bocas me seguiram. Conversavam. Arrancavam pedaços. As mãos dele puxaram o meu quadril, e me conduziam até seu pau. Aberta, escancarada, eu recebia aquela benção. Travava o objeto do meu desejo entre as minhas pernas. Ele metendo com tal facilidade, num crescente, enquanto eu cravava as minhas unhas pretas com força nas tuas costas e o jazz tocava ao fundo.

Somos partes espalhadas sobre o chão. Somos líquidos escorrendo pelas paredes. Estamos sós, inteiros, submersos. Somos três vozes que ecoam todos os desejos do mundo.

Devia ser onze horas da manhã, quando escutei a porta bater. Manhã de Carnaval. Marcelo/Rodrigo tinha se soltado do nosso emaranhado de corpos, e desaparecido. Carol permanecia pelada e apagada com a cabeça no pufe, e eu me levantei como pude, e fui pegar um copo d’água. Abri a geladeira, achei uma lata de coca, enchi o copo de gelo e encharquei minha ressaca. Sorri, sozinha, por dez minutos. Era carnaval.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

O abraço da minha camA

A Internet tem dessas coisas... De vez enquando, encontramos algumas delicadezas espalhadas por aqui. Esse vídeo foi um presente para o meu dia. Acordei super cedo hoje! Tinha dormido apenas 4 horas e passei o dia recheado por um mau humor terrível, correndo de um lado para o outro... Enfim, só fiquei feliz quando voltei para minha cama no meio da tarde...rs
Aproveite e Boa sonhos!
Juro que amanhã tem algo interessante por aqui...
Hoje não. Hoje só tem ausência.

domingo, fevereiro 01, 2009

Re-Partido


Meu coração é uma soma

de todos os pedaços doados

pelas ruas sem esquinas.


É ausência de

um constante pulsar específico.


É a mistura de sotaques

que se instala num peito

vazio e grávido.


Bobo, poeta, escroto.

Meu coração sua a cada rima,

se despede a cada encontro.


Embalado para presente.

Ao viajante, outra parte.

Re-partida. Reticências.


Mais uma vez... meu coração,

não é meu.