segunda-feira, abril 15, 2013
...
Tampa,
mordaça. Água parada. O martelo que estilhaça o prego. Mantenho-me longe de
mim, amorfa. Como o que se espatifasse, não fosse a vontade de continuar, mas
apenas lágrimas. Ignoro a certeza, as tais escolhas que me levam ao vazio. O
beijo trocado, o toque doce. Um pequeno passo e dentro dele, o furacão. A falta
de coragem de escolher o outro caminho. As mãos cerradas, o coração aberto, mas
submerso. Sem fôlego. A imensidão da mediocridade. Assim, me vejo, nesse oco. O
pequenino espaço frágil empestado de mofo. Percebe o retrato, ele está em
volta, corroendo a imagem, mas mantém a moldura firme, de madeira clara.
Vestido rosa choque, echarpe no pescoço. Há um sorriso vago, quase forçado. E o
cheiro forte da putrefação. Os amigos íntimos
vão cobrindo os cantos, se alastrando sobre o meu cabelo. Foto antiga e
clichê. A virgindade rosada abre espaço para o verde, o cinza, o branco. As
mãos fétidas, beijos déspotas. O objeto vergonhoso, por um ano retirado da
parede, em dia raivoso, e posto ali, na varanda, para que a chuva corroesse. Sou
a enchente que leva a casa ou uma mulher que se atira na frente do carro.
segunda-feira, janeiro 07, 2013
Post vencido ou um pequeno relato sobre 2012.
É
difícil escrever sobre o tal ano. Ambíguo, revolto. As vezes, parece que se
passaram dez ou vinte deles em apenas um. Depois, sinto que o mesmo nem começou.
Passou a vez, pulou a jogada. Mas, talvez, eu esteja apenas acanhada para dançar
sentimentos. Praticamente calada, permaneci. Troquei a poesia pela parede,
pelas garrafas, por lambe-lambe. Me
entreguei a uma língua específica, a dela. Posso falar primeiro dos meus três
meses cariocas, da minha solidão quente, do meu livro lançado. De quase noventa
pores do sol no arpoador - como é estranho esse plural, já que todos foram exclusivos,
enfim. Lembro da Marcela, da nossa invasão Almodovar na casa do Ex, a limpa no
apartamento e a comemoração no azulejaria, boteco pé sujo da Lapa. A rosa
branca, meu disco favorito do Caetano e mil velas em Santa Tereza. Como é
triste quando um amor se perde antes de começar. As madrugadas sozinhas, o
samba do Bip Bip aos domingos. Aqui, tudo é Carnaval. O nosso encontro, o
encontro deles. Á três. Evoé, Dionísio, Evoé . O apartamento sem móveis ou
porcelanas, apenas corpos distintos. Tal
cheiro, tal forma. Somente o sexo é desprovido de pecado. A minha volta. Trocar
os pés pelo carro, olhar novamente Brasília. Perder patrocínios, me despedir de
amigos. Ver que os caminhos mudam, que os sonhos percorrem outros rumos.
Aceitar o outro, me aceitar. Pixar tudo que vê pela frente, mudar o nome da ponte. Conseguir transformar arte
em política. Trabalhar feito uma condenada. Viajar para 10 lugares diferentes,
ter saudade de casa. Receber a benção toda quarta-feira, rezar para o que
parece incurável, pegar a minha filha, a minha irmã no colo. Chorar escondida,
compulsivamente. E implorar pra ter fé.
Ver todo preconceito espalhado por ai e me ver imbuída de preconceito também.
Como estrangular a “sociedade” que
existe em mim? Que diferença é essa, enfim? O que te faz melhor? Não adianta o
politicamente correto, se não há abraço. Ser amiga de puta, viado, sapatão,
travesti, aidético. Ser inteiro, semelhante. Não classificado. Entender que
todos temos direito ao clichê. Viajar a dois, conhecer as pintas. Gozar no meio
do Teatro Colón. Na cachoeira particular. Na escada inca. Num colchão inflável.
Entender que o amor é algo que se espalha quanto mais se compartilha. Semente
que brota por todo lado. Independe de cor, gênero, tatuagem. Ter certeza das
escolhas, dos silêncios. Aceitar a covardia de si, do outro. Ter uma irmã que
vai casar e mudar pra China. Os ciclos, os traumas. Saber dar pontos finais.
Não desistir. Superar as miudezas. Aceitar os textos sem revisão, a peça sem
ensaio. Entender que alguns personagens não serão vividos pela tal atriz. Não
escrever uma linha sequer de poesia. Dizer tudo sussurrado em apenas um ouvido
específico. A casa de vidro, os cachorros, grama verdinha, os filhos, um marido
divido. Ter um ideal hippie pintado a duas mãos. A nossa delicadeza. O trabalho
árduo, a sede bagunçada. Quatro projetos aprovados. Grana, imposto, conta,
mudança. Suplicar para que o ano acabe. Querer continuar calada. Fazer
piquenique no meio de obras de Land Art. Sair em todos os jornais. Entrar na
internet, aguentar aeroportos. Recife, São Paulo, Salvador, Palmas, Cuiabá,
Primavera do Leste. Pedir que tudo pare. Que o mundo realmente acabe. Que os
vulcões explodam, que as tsunamis levem tudo. Que exista apenas a morada: o
outro corpo. Chorar de saudade e desespero. Fazer prestação de contas. Passar
horas divertidas em um ateliê emprestado. Me reinventar. De novo.
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