terça-feira, junho 28, 2011

quinta-feira, junho 23, 2011

só hoje

de alguma forma, 
eu queria ser outra

Cuide de Você


Conheci Sophie Calle pelas mãos de um amigo. Ao ler Histórias Reais, me identifiquei totalmente com o trabalho da artista e virei fã. Hoje, revirando as gavetas atrás do meu passaporte, encontrei uma "carta" que recebi na exposição Cuide de Você. E logo após, encontrei essa performance no youtube. Achei incrível. Deu vontade de copiar para divulgação do entreaberta. 

ausência, deserto e cereja.

A luz estourada, os personagens vazios. Tento desligar o motor do meu carro. Andar pelas quadras, escutar outros sotaques. Todas as pessoas são interessantes, num primeiro momento. Enquanto a vida segue numa via expressa, eu acalmo o meu animal com a música de outra pessoa. De várias pessoas. De todas as pessoas. Não há ninguém de verdade. E a minha música desafinada?

Eles queriam criar uma cidade nova, mas havia um deserto. Era preciso atravessar um longo espaço vazio para chegar até o ponto. Quanto mais se caminhava, mas se perdia. Adentrava o deserto; se enfiava na ausência. Eles não podiam voltar ao início. Deveriam transformar a (lenta, longa e inevitável) morte em uma festa para convidados passivos.

O fato de não prestar atenção nas árvores faz como que o motorista continue infeliz. E a sua mulher, insatisfeita. Quem enxerga as peculiaridades, saboreia melhor as dobras. Um homem só perde o medo da morte, quando encontra o amor. É como se essa miudeza que chamamos de vida adquirisse sentido verdadeiro. A vida é cereja doce que desmancha na boca.

O sol esconde o frio da cidade. Sabemos que estamos gelados quando andamos pelas sombras. Estamos escondidos nesse amplo espaço. Só duas coisas importantes: o amor e a perda. O amor não garante a minha felicidade, mas sim a constatação que estou viva. É sempre o mesmo tema. Não posso dar aulas sobre amor e existência. Agora, eu peço licença para desaparecer do mundo e chorar em cima do meu telhado de vidro. 

segunda-feira, junho 13, 2011

quarta-feira, junho 08, 2011

amor líquido


minha intervenção realizada na tesourinha da 216 norte 
uma pequena homenagem a Dona Esmeralda e os seus 3 dias.

...

mudar de casa, trocar de blog, matar um amor, quebrar o padrão, publicar um livro, reler os textos, achar que o mundo é uma merda, ser uma merda, ter 800 reais pra passar o mês, renovar carteira de motorista, pagar a três multas, pagar IPVA, pagar seguro do carro, abrir uma empresa, fazer pós-graduação nas horas vagas, ser solteira no domingo, ser solteira no sábado, ser solteira na segunda, sorrir menstruada, trabalhar 14 horas por dia na frente do computador, não saber mais rimar, perder a poesia cotidiana, fazer exercícios pra voz, levantar da cama de manhã, negar os trabalhos que pagam bem por uma utopia patética, não entender as piadas da moda, dirigir pra cima, pra baixo e pro lado, não ter tempo pra ler, pra escrever, pra respirar, não prestar atenção no por do sol, tomar uísque sozinha, questionar todas ações, perder um livro com dedicatória do seu ídolo, não ter foco, tentar desvendar a geração, ter o seu stencil coberto por uma publicidade, se dividir em três profissões e entender que você é melhor naquela que você odeia, ser demitida sem aviso prévio, ter casos superficiais, amar pessoas distantes, ter um namorado gay, ficar com o melhor amigo e perder a amizade dele, fazer análise, chorar no divã, ter medo da dependência emocional, se sentir inapta, ser saudosista, achar que perdeu a felicidade em algum lugar no passado, não conseguir olhar para o espelho, nem olhar pra trás, ter medo dos novos passos, das críticas, de enlouquecer, de beijar um desconhecido, do que é finito, de buscar a estabilidade, de envelhecer, de ficar gorda, de ficar sozinha, da vida perder o sentido, de ser feliz. enfim, inventar mil motivos pra chorar de madrugada.

segunda-feira, junho 06, 2011

muro em ponta de faca

Era difícil olhar para o espelho. Como dissolver aquela máscara? Deveria penetrar naquele reflexo e encontrar a mulher que eu matava diariamente. Ela dormia enquanto eu anotava afazeres banais. Não entendia a sua fragilidade camuflada. Os desejos velados que se confundiam com uma esperança patética. Minha senhora pedia sigilo de estado. Cercada de atitudes clichês, uma pequena personagem inapta para tramas contemporâneas. Ela não servia para os próximos passos. Eu tinha medo de aceitar a minha capataz. Era impossível afogá-la no espaço refletido. Ou fingir que a dama não estava dentro do meu quarto. A moça se multiplicava nas horas vagas. Pedia poesias bobas. Encarava homens sérios. Eu fugia pela tangente, para o feminismo inútil. Como poderia aceitar sua súplica por profundidade e dependência emocional?