Parecia que eu estava amarrada. Pés e mãos. No meio do meu corpo, bem no centro, um pouco abaixo do umbigo, uma dor insuportável. Como se alguém forçasse a retirada de um órgão ou coisa parecida lá de dentro. Eu sentia as mãos desconhecidas puxando o meu centro de energia. Eu não gritava, apenas chorava de olhos fechados.
Sabia que já passava das onze da manhã, mas continuava deitada na cama. Aquela dor representava a nossa pequena morte. Minhas esperas diárias, os desejos insatisfeitos, masturbações solitárias. Você se despedia da minha vida. Relatava o nosso fim através de pesadelos, de dores físicas. Não havia coragem suficiente para as próximas palavras. Como se o futuro não existisse pra gente. E de certa forma, ele nunca havia existido.
Conjugávamos no presente. Era o nosso tempo verbal. Devotos do instante, do agora, do momento. Porém, de tantos instantes, surgiu o depois. E com depois, o desejo do futuro perfeito. Eu quis outras conjugações, novo tempo verbal. Você limitava a minha presença a sua cama ou a tela do seu computador. Racionalmente etiquetava os sentimentos e colocava nas tuas gavetas organizadas. Quais seriam as palavras que estavam na minha etiqueta?
A dor havia tomado conta do meu corpo. Retirar aquele abscesso parecia impossível. Como um câncer que se espalha pelas entranhas, você estava alocado na minha pele. Eu deveria morrer para te matar. Como praga, como relação co-dependente. E dessa forma, seríamos mais felizes. Seriamos o futuro.
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