sexta-feira, julho 31, 2015




Os dois deitados se esquentam. Molhados de lágrimas e gozo, eu vejo as pernas entrelaçadas. Eles, com a respiração sequenciada, dormem agrupados. Aos meus olhos, amor novo, de fato. Esse reforça ainda mais o outro. Sujeito plural. Eles juntos, eu me sinto abraçada. Uma pirâmide. Pequenas abelhas que sorvem delicadamente as infinitas dobras corpóreas expostas a luz da lareira. Tomo mais um gole de vinho uruguaio e um pedaço de salame. O resto da noite é o meu café da manhã. Flutuo no meio deles, eles pisam no chão. Nunca sei pra que lado que devemos seguir. Não é falta de firmeza, mas a minha dança é lenta. continua. constante. O amor me transborda, espalha a alma, me faz revisitar Deus. O universo está dentro de mim. Sou sensível a qualquer movimento. Eu, apenas poesia e panela. Logo mais, o sol nasce. Tenho vontade de deixar os dois e correr para o mar. As ondas parecem ainda maiores pela janela. Seria bom pisar na areia e sentir a água gélida subir pela espinha. Algo me prende no chalé. Talvez o cheiro misturado dos nossos corpos ou a saliva antiga entre as minhas pernas. Tudo será lembrança embasada em breve. Ele vai fugir. Ela vai embora. A forma vai desformar. Prefiro continuar sentada na bancada, rabiscando as palavras, tentando eternizar o instante. Poeta é um bicho besta. Receio o próximo passo. Já escuto o pequeno dragão. Repito, diversas vezes, baixinho, pra mim - Nada é meu – como se o mantra me salvasse do futuro. Só o tempo se apropria das peles. O resto, a liberdade abocanha.

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