sexta-feira, julho 31, 2015

...

Garganta empoeirada. Sozinha no canto. Falta ar. O inverno abraça forte. É o vazio que invade a alma. Tomo outro passiflora, dou uma volta no parque. Recalculo os passos que me afastam de ti. Repenso a individualidade antes tão almejada. Esqueço certezas, as decisões consensuais. Sou algoz da própria dor. Penso em desistir de tudo. Outra chance, a mesma estória. Procuro um final plausível que fuja dos clichês. Recorro a maturidade inexistente. Volto a ter quinze anos. Encontros diários encharcados de intimidade. As bocas que se agrupam “sem querer” como espasmos involuntários. Torcedores esperançosos afirmam: é apenas uma fase. Nem eles querem acreditar em tamanha novidade. Aqui dentro, o relógio se arrasta. As suas lágrimas são diluídas em doses de uísque. Você também tem quinze anos. Bate na minha porta de madrugada. Eu te cuido e tento cuidar de mim. Procuro a força que me falta. Tiro do útero, te dou colo. Te ponho pra dormir do meu lado. Me desespero junto. Acho que estou imensamente equivocada. Esbarro nos mesmos preconceitos velados, nas vontades escancaradas, na etapa do ciclo. Quantas vezes já debatemos esses pontos? Posto qualquer coisa sobre liberdade do Prem Baba. Ando de bicicleta, recito uma poesia. Procuro o pouco de mim que resta sem você. As minhas lágrimas molham o teclado do computador. Os hormônios saltam e eu escuto o choro de um bebê na varanda. Releio textos feministas. Discorro sobre o tema. Coloco mais água na tempestade, fervo a saudade na panela e deixo qualquer ação pra mais tarde.

Nenhum comentário: