quinta-feira, agosto 14, 2008

Saudade

Entra sem ser chamada. Me acorda com um beijo doce. Puxa o lençol da minha cama. Jura amor eterno nos meus ouvidos e me impede de continuar. Faz questão de chamar atenção, de sacudir a inercia, de rasgar minha a calma. Traz de presente o cheiro daqueles cachos castanhos de menino. Os cachos que as minhas mãos bagunçaram antes da corrida com o vento para o outro lado do mundo. Aqueles cachos que entrelaçaram o meu corpo com o sedento desejo de permanecer na cama por mais tempo. Mas ela entra sem ser chamada e me acorda. Vai até o banheiro, enche a boca de água salgada e benze os meus olhos. Bom dia estranho. E se mantém aqui no quarto- intrusa companhia- perfuma o ambiente e abraça a ausência do real. Ela mistura desejo com falta, falta com medo, medo com lembrança boba. Todas as cores necessárias para um quadro clichê. Ela usa as minhas paredes como uma grande tela e pinta, rabisca, picha algo que ainda não existiu. A moça vadia me veste de ilusão e recomenda a espera como refeição diária. Logo pra mim, que odeio esperar.

Um comentário:

Ricardo Jung disse...

malditaaaa

a saudade é uma esperança morta, um resto que não há... um dia vou matá-la como fiz com as minhas mães

bandida.