Entrou sozinho no café. Escolheu a mesa de canto. Havia duas cadeiras. Afrouxou a gravata. Pediu uma garrafa de champanhe e o cardápio. Era quarta-feira. O garçom trouxe duas taças, mas serviu apenas uma. Costume de garçom: trazer duas taças quando se pede champanhe. Escolheu o melhor prato. Pediu o filé ao ponto pra mal. Gostava de jantar ali nas quartas-feiras. Passava três dias da semana na cidade requentada, e sempre as quartas, ele ia ao mesmo café. Era uma maneira de instalar a rotina em um lugar que não o acolhia tão bem. Um espaço íntimo no meio da ausência. Ele, o filé, o champanhe. E o garçom que sempre trazia a indelicada segunda taça. Era uma ironia em forma de deslize. Pouco importava. Depois de algumas separações, entendemos outros sabores na solidão. Havia um lançamento de livro. O bistrô estava cheio. A autora devia ter menos da metade da sua idade. E os outros clientes também. Por pura simpatia, decidiu comprar o livro. Vinte reais. Era 25% do valor do champanhe. Literatura barata. “Seu nome?” – ela perguntou, entre sorrisos. Não respondeu. “Dedique a você”. Ela rabiscou três frases sinceras. Escritores captam as almas perdidas. Voltou para mesa. Comeu a última garfada. Leu as primeiras páginas. Chegou à página 33. Pediu um expresso com chantilly. É preciso adocicar ainda mais alguns encontros. Tomou, de forma delicada, o café. Escreveu um bilhete. Pediu a conta. Passou o cartão. Caminhou em direção do encontro. Entregou a sua poesia. Dispensou o taxi. Decidiu caminhar as três quadras. Havia tempo. E pedaços de ipês brancos.
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