De novo aquela dor. Nem pra esquerda, nem pra direita. No mesmo lugar: o centro. Era o peito que doía. Deveria estar relacionada ao chacra cardíaco, a energia contida. Não era exotérico ou macumbeiro. Não sabia dessas coisas de almas, incensos, rezas e afins. Apenas sentia. Sentia muito. Aquele espaço ausente que ele tentava esvaziar ainda mais. Que dava pontadas em noites chuvosas, que aparecia à surdina para o jantar com a namorada, que o fazia chorar escondido. O centro coberto de passado. De fungos que deveriam ser arrancados pela sua mão, sem testemunhas oculares. Os desejos que se entranhavam nas paredes imaginárias daquele peito semi-aberto. Como desintoxicar um coração contaminado por um amor poluído? Perder um vício? Matar um câncer instalado? Os hábitos certificavam a loucura. Diariamente, ele procurava outros sinais. Uma palavra que ainda podia estar escrita no porão. Um som agudo que certificasse a agonia latente, desconcertante. Ele revisitava o centro para lembrar a felicidade. De quando desejava a morte pós-gozo, por saber que nada mais faria sentido depois daquele ato de transgressão e verdade. Quando se ama, pede-se a morte... diariamente. O corte derivava das escolhas. Das dúvidas imaturas. Do ímpeto do ponto final. Ele sentia o desconforto. E de alguma forma, esse incômodo, o fazia sorrir. Aquela dorzinha que ele tentava limpar (inutilmente) era responsável pela esperança. Nem pra esquerda, nem pra direita. Mas, no centro. Era lá, que ele matava a saudade, todos os dias.
Um comentário:
"é tão ruim dormir sozinha em dias chuvosos..."diz ela. 2 silêncios... e 1 pensamento... .
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