quarta-feira, julho 27, 2011

Prosa bucólica no Centro

Não queria sair dali. Preferia ficar deitada naquela cama emprestada. No apartamento que, de certa forma, era deles. Estavam trancados há cinco longos dias. Nem o sol, nem a praia, nem o pão de açúcar. A sua felicidade se resumia na conjunção com um corpo específico de sotaque diferente. Cada risada, cada apelido inventado. O chocolate dividido entre as bocas irmãs. Havia um oceano particular a ser desvendado a cada musica que tocava na vitrola. 


E agora ? - ela pensava em silêncio.


Imbuída de carnaval, havia a certeza necessária para tracejar um plano impossível: um romance digno daquela estante. Ela gostava do móvel branco. E pela quantidade de autores, desconfiava que o dono legítimo do quarto fosse um bom escritor. Às vezes, quando teu amor dormia, ela levantava, escolhia um livro e abria páginas ao acaso. Por milagre, lia apenas palavras belas. Eram como se a poesia construída naquele apartamento já estivesse escrita em todos os livros da estante. Ficava calada, de olhos atentos. A poeta de meia tigela virava leitora entusiasta. Ela suplicava que aquele homem não a acordasse naquele instante.


Pra quer escrever romances, quando se vive um?

Um comentário:

Samara disse...

Adorável. Escrever romances, realmente, é para quem vive de passado remoto. ^^
Como eu, talvez.