segunda-feira, junho 06, 2011

muro em ponta de faca

Era difícil olhar para o espelho. Como dissolver aquela máscara? Deveria penetrar naquele reflexo e encontrar a mulher que eu matava diariamente. Ela dormia enquanto eu anotava afazeres banais. Não entendia a sua fragilidade camuflada. Os desejos velados que se confundiam com uma esperança patética. Minha senhora pedia sigilo de estado. Cercada de atitudes clichês, uma pequena personagem inapta para tramas contemporâneas. Ela não servia para os próximos passos. Eu tinha medo de aceitar a minha capataz. Era impossível afogá-la no espaço refletido. Ou fingir que a dama não estava dentro do meu quarto. A moça se multiplicava nas horas vagas. Pedia poesias bobas. Encarava homens sérios. Eu fugia pela tangente, para o feminismo inútil. Como poderia aceitar sua súplica por profundidade e dependência emocional?  

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