A luz estourada, os personagens vazios. Tento desligar o motor do meu carro. Andar pelas quadras, escutar outros sotaques. Todas as pessoas são interessantes, num primeiro momento. Enquanto a vida segue numa via expressa, eu acalmo o meu animal com a música de outra pessoa. De várias pessoas. De todas as pessoas. Não há ninguém de verdade. E a minha música desafinada?
Eles queriam criar uma cidade nova, mas havia um deserto. Era preciso atravessar um longo espaço vazio para chegar até o ponto. Quanto mais se caminhava, mas se perdia. Adentrava o deserto; se enfiava na ausência. Eles não podiam voltar ao início. Deveriam transformar a (lenta, longa e inevitável) morte em uma festa para convidados passivos.
O fato de não prestar atenção nas árvores faz como que o motorista continue infeliz. E a sua mulher, insatisfeita. Quem enxerga as peculiaridades, saboreia melhor as dobras. Um homem só perde o medo da morte, quando encontra o amor. É como se essa miudeza que chamamos de vida adquirisse sentido verdadeiro. A vida é cereja doce que desmancha na boca.
O sol esconde o frio da cidade. Sabemos que estamos gelados quando andamos pelas sombras. Estamos escondidos nesse amplo espaço. Só duas coisas importantes: o amor e a perda. O amor não garante a minha felicidade, mas sim a constatação que estou viva. É sempre o mesmo tema. Não posso dar aulas sobre amor e existência. Agora, eu peço licença para desaparecer do mundo e chorar em cima do meu telhado de vidro.
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