quarta-feira, agosto 11, 2010


I - O FOGO
O sol, desrespeitoso do equinócio
Cobre o corpo da Amada de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pêlos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.
E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
De modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.
E pego, encaro o Sol com ar de briga
Ao mesmo tempo que, num desafogo
Proibo-a formalmente que prossiga
Com aquele dúbio e perigoso jogo...
E para protegê-la, cubro a Amada
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.
Vinícius de Moraes 

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