"Estava chovendo no eixo monumental, quando me senti com 15 anos. Errei duas vezes o caminho antes de chegar a na minha casa. Ainda precisava jogar as roupas na mala, depilar, tirar dinheiro e voltar agir com serenidade. Ninguém morre de amor. Em menos de quatro horas, eu estaria atravessando o centro do país em busca de eternizar algo que nascerá em dias ébrios.
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Os minutos escorregam do relógio quando se está com pressa. Na plataforma da rodoferroviaria, estava a mesma personagem do parágrafo acima. A mochila desarrumada nas costas, uma garrafa de água com gás, dois maços de cigarros de canela e uma enorme barra de chocolate meio amargo. Havia uma fila brasiliense para entrar no ônibus. Viajantes estranhos se entreolhavam e trocavam poucas palavras. Ela acendeu um cigarro para celebrar o costume da sua cidade, e conseguiu enfim respirar depois do longo dia.
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Sentei do lado da única certeza: minha vontade de ver mais partes dele. Desde que nos separamos, sentia teu corpo me abraçando todas as noites. Soltava algumas palavras, me beijava de forma doce e permanecia ali, entre as minhas pernas, até eu adormecer. Parecia ser intenso demais para apenas seis dias de convivência carnavalesca. Como podia estar entregue aos braços de algo tão efêmero?
As minhas perguntas imaginárias avançavam os sinais vermelhos. Daria o mundo pra entender cada métrica que se escondia por trás da barba do destinatário. Lá podia estar o inicio ou o final de uma longa espera. Não havia bússola, nem mapas. Nos últimos tempos, eu era uma náufraga que vagava sozinha em uma estrada longa e comprida.
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Ele se fazia presente a cada momento de descuido da sua realidade. Seriam 937 km ou 14 horas até chegar ao destino escolhido. Curvas, asfaltos, dramins. Ela costumava enjoar fácil. É preciso de concentração e paciência para seguir. Viajar de ônibus agonia a alma dos mortais. Aquela intimidade forçada de roncos e barulhos estranhos por todos os lados. Talvez fosse bom levar um livro de companhia mesmo sabendo do risco de deslocar a retina. Enfim, estava feito. Não havia porque se arrepender. Nem todas as torturas rodoviárias iriam impedi-la de dar aquele passo.
Conversou com as estrelas mesmo sem abrir a cortina ao anoitecer. Leu algumas rimas. O suficiente para a superdosagem do remédio de enjôo acomodasse o corpo pequeno na poltrona desconfortável. A tal poltrona, que por quase uma hora, ela tentou convencer a se inclinar de forma servil, para que seus cabelos castanhos repulsassem. Não adiantou apertar botão, nem rezar a Ave Maria ou brincar de quebra-cabeça. Foram precisos quatro comprimidinhos brancos e vinte três poesias e meia para que a paz fabricada reinasse sobre a terra. "
Esse texto foi escrito no mês passado, e como dá pra perceber, ainda tá em aberto... Buscando um grande final. Mesmo assim, quis postar aqui. Porque enquanto os finais não são possíveis, eu saboreio meio.
3 comentários:
Abraçou-se com a certeza.
Patrícia, menina...que lindo...de forma tão bela você concretizou no cotidiano esse sentimento de afogamento num outro que nem sequer sabemos ser mesmo o outro. Aí te sugiro pensar em terminá-lo aí. Com tal construção do sentir, a própria personagem se torna secundária. Que bom revisitar seu blog. Sempre bom demais!
Beijo grande,
Sandra
A[r]dor-ei!
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