Depois de secos meses, ela decide benzer as linhas da cidade. O cheiro de terra molhada invade o asfalto amplo e fica mais fácil sorrir sem motivo. É como se a preguiça convidasse o nosso corpo cansado da aridez quase-eterna para dar uma voltinha no parque. Trilha sonora leve, brisa calma. O céu antes colorido, fica todo cinza - cinza-azulado – e de repente, a noite visita o dia. É mágico ver o sol ceder espaço imediato para nossa escuridão urbana. Ai, ela vem e me abraça. Deságua desejos. Traz a certeza que o fim é sempre começo de algo novo. Limpa, invade o peito, encharca os olhos. A chuva molha todas as frestas. Me acalma a pele. Suavemente eu me dissolvo e sou levada pelo destino incerto das lágrimas celestes. Os traços da cidade ficam borrados. Pessoas intocadas buscam o toque urgentemente. E o meu confortável edredom preto me abraça. Espaço duplo para um corpo só. Mas a moça se exibe e dança sobre os meus antigos vidros embaçados. Ela lava minha alma. Sou água nova sobre a cidade cimento.

espaço duplo, um corpo só.
Desenho do Taigo Meirelles
4 comentários:
Sou água sobre a cidade cimento.
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Sou da mesma opinião. A chuva é linda. Chega sempre renovando as coisas. Traz novas esperanças.
Muito bonito o desenho, também, cheio de personalidade.
espaço duplo, pra um corpo só.
tá de brincadeira. quem é você. poeta?
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