terça-feira, novembro 16, 2010

Sobre pára-brisas e borboletas

Havia borboletas na estrada. Brancas, amarelas e pretas. Elas voavam em bandos, felizes.  De certa forma, as inocentes damas traziam um pouco de poesia para minha viagem.  Eu, sentada no banco do passageiro, as observava.

Nadavam na direção contrária. Atiravam-se no pára-brisa do taxi. Uma seqüência de acidentes letais. Todas as borboletas eram atropeladas na minha frente. Suas asas quebradas enfeitavam o vidro e impacto rompia o silêncio. 

A cada acelerada do motor, mais tragédia. O motorista parecia não se importar com tamanha crueldade. Cantava uma música sertaneja. Puxava assunto com os passageiros do banco de trás, enquanto eu chorava escondida atrás dos meus óculos pretos.

Você estava na minha cabeça. Talvez por isso a importância do massacre das borboletas. Nós estávamos em lados opostos. O caminho escolhido despedaçava qualquer desejo de sobrevivência.  De repente, as minhas esperanças eram aqueles pequenos insetos coloridos. E você, um imenso pára-brisa.

O choque era inevitável. A mesma borboleta que alegrava a estrada me matava no instante seguinte. Esparramada naquele táxi no interior do Acre, cercada de pasto por todos os lados, assistia uma guerra não declarada. Você e teus quereres. Eu e as minhas borboletas.

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