Sou acostumada a caminhar despercebida por um certo jardim azulado. Ele é um daqueles jardins que são regados pela ambigüidade e pela loucura. Um jardim de Alice, onde tudo pode mudar em segundos. Permeado por subidas e decidas rápidas, e quedas quase instantâneas, eu sigo patinando naquela imensidão. Às vezes me questiono porque esse jardim é assim, tão anil... Talvez seja pelo excesso de lagrimas. Ou pela falta de razão. Por que por mais coloridas que sejam aquelas flores, há sempre um tom azulado que insiste em destoar na minha caminhada? E eu vivo seguindo por esse jardim. Encontro flores bonitas, mas fugitivas, no azul. Elas gostam de rir e acariciar suas pétalas sobre as minhas pernas, enquanto me cantam musicas antigas. Mas basta, eu tentar pegar uma delas em minha mão, pra que rapidamente elas corram pra o outro lado. Quando eu vejo, elas já mudaram de rotas e de visitante. Simples. Quase cotidiano. São as minhas flores fugitivas. Que passam de mão em mão. As vezes tenho raiva, ódio, inveja dessas florzinhas malditas! Tenho vontade de arrancá-las uma vez por todas do meu caminho. Matar uma a uma. Florzinha, por Florzinha. Cometer um Florescídio! Não ia sobrar flor nenhuma no meu jardim! Apenas aquele céu anil que me embebeda. Mas o problema é que eu nasci assim, apaixonada por fugitivas. Sou dada à beleza e a forma efêmera que elas dançam enroscando seus caules com meu corpo cansado. E quando raiva passa, o perfume das flores ficam sobre a minha pele. Elas gostam de envenenar o meu coração. A suavidade presente nas flores são disfarces para mastigar e destruir os visitantes desavisados, como eu. Por isso, em cada nova caminhada pelo o meu jardim azulado, tento tampar o nariz e fechar os olhos, para não perder o foco. É preciso andar na ponta dos pés e fugir das fugitivas. Aprender a conviver com o medo de acabar assim, sem a beleza da primavera.
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