segunda-feira, janeiro 07, 2013

Post vencido ou um pequeno relato sobre 2012.


É difícil escrever sobre o tal ano. Ambíguo, revolto. As vezes, parece que se passaram dez ou vinte deles em apenas um. Depois, sinto que o mesmo nem começou. Passou a vez, pulou a jogada. Mas, talvez, eu esteja apenas acanhada para dançar sentimentos. Praticamente calada, permaneci. Troquei a poesia pela parede, pelas garrafas, por lambe-lambe.  Me entreguei a uma língua específica, a dela. Posso falar primeiro dos meus três meses cariocas, da minha solidão quente, do meu livro lançado. De quase noventa pores do sol no arpoador - como é estranho esse plural, já que todos foram exclusivos, enfim. Lembro da Marcela, da nossa invasão Almodovar na casa do Ex, a limpa no apartamento e a comemoração no azulejaria, boteco pé sujo da Lapa. A rosa branca, meu disco favorito do Caetano e mil velas em Santa Tereza. Como é triste quando um amor se perde antes de começar. As madrugadas sozinhas, o samba do Bip Bip aos domingos. Aqui, tudo é Carnaval. O nosso encontro, o encontro deles. Á três. Evoé, Dionísio, Evoé . O apartamento sem móveis ou porcelanas, apenas corpos distintos.  Tal cheiro, tal forma. Somente o sexo é desprovido de pecado. A minha volta. Trocar os pés pelo carro, olhar novamente Brasília. Perder patrocínios, me despedir de amigos. Ver que os caminhos mudam, que os sonhos percorrem outros rumos. Aceitar o outro, me aceitar. Pixar tudo que vê pela frente, mudar  o nome da ponte. Conseguir transformar arte em política. Trabalhar feito uma condenada. Viajar para 10 lugares diferentes, ter saudade de casa. Receber a benção toda quarta-feira, rezar para o que parece incurável, pegar a minha filha, a minha irmã no colo. Chorar escondida, compulsivamente.  E implorar pra ter fé. Ver todo preconceito espalhado por ai e me ver imbuída de preconceito também. Como estrangular a  “sociedade” que existe em mim? Que diferença é essa, enfim? O que te faz melhor? Não adianta o politicamente correto, se não há abraço. Ser amiga de puta, viado, sapatão, travesti, aidético. Ser inteiro, semelhante. Não classificado. Entender que todos temos direito ao clichê. Viajar a dois, conhecer as pintas. Gozar no meio do Teatro Colón. Na cachoeira particular. Na escada inca. Num colchão inflável. Entender que o amor é algo que se espalha quanto mais se compartilha. Semente que brota por todo lado. Independe de cor, gênero, tatuagem. Ter certeza das escolhas, dos silêncios. Aceitar a covardia de si, do outro. Ter uma irmã que vai casar e mudar pra China. Os ciclos, os traumas. Saber dar pontos finais. Não desistir. Superar as miudezas. Aceitar os textos sem revisão, a peça sem ensaio. Entender que alguns personagens não serão vividos pela tal atriz. Não escrever uma linha sequer de poesia. Dizer tudo sussurrado em apenas um ouvido específico. A casa de vidro, os cachorros, grama verdinha, os filhos, um marido divido. Ter um ideal hippie pintado a duas mãos. A nossa delicadeza. O trabalho árduo, a sede bagunçada. Quatro projetos aprovados. Grana, imposto, conta, mudança. Suplicar para que o ano acabe. Querer continuar calada. Fazer piquenique no meio de obras de Land Art. Sair em todos os jornais. Entrar na internet, aguentar aeroportos. Recife, São Paulo, Salvador, Palmas, Cuiabá, Primavera do Leste. Pedir que tudo pare. Que o mundo realmente acabe. Que os vulcões explodam, que as tsunamis levem tudo. Que exista apenas a morada: o outro corpo. Chorar de saudade e desespero. Fazer prestação de contas. Passar horas divertidas em um ateliê emprestado. Me reinventar. De novo.  

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