terça-feira, outubro 04, 2011

Silêncio de duas semanas para a passagem de um furacão


poéticas urbanas- by Diego Bresani


Lançamento, críticas, elogios, explicações, perguntas, entendimentos, entrevistas, sorrisos falsos, sorrisos verdadeiros, visita de Vó, prima, papagaio. Outras propostas de lançamento, necessidade de organização, orelha anônima, distribuição de livros, vendas, pensar no preço, entender a força do dinheiro, a necessidade dele. Será que para expandir a poesia é preciso ser burocrata? Escrever três FAC em quatro dias, fazer planilhas, pedir orçamento, encarar o salic web. Outra estréia. Poéticas Urbanas. Montagem e desmontagem em quatro cidades. Um gerador quase roubado. Força, coreografia, voz, equívocos, cortes, fazer de novo, oito vezes pra vê se fica bom, mais críticas, mais elogios, chão, concreto, assobios, uma mulher que grita e sangra. Maminha, picanha, alcatra. Ser considerada feminista. Eu? Julgamentos, análise, divã. Estamos sempre escrevendo a estória no nosso corpo. Chocolate, TPM, quereres. Festival de cinema. Abertura, filmes, luta diária. Encontro real com um desconhecido íntimo. Desejo de descobrir, de sentir o gosto, o cheiro. Entender a impossibilidade, o momento certo, a hora exata. Deixar para outro dia, quem sabe outra vida. Não julgar o sentimento do outro. Não se julgar em excesso. Passar dois dias inteiros na ebúrnea. Gritar a liberdade. Entender o preço dela. E clamar por uma companhia, pelo desejo sincero de uma construção, uma conversa profunda. Planejar as férias na argentina. Sozinha de novo. Ter medo do outro, de todos os outros. Mas querer de verdade o encontro. Ser piegas, mulherzinha. Entender a adolescência do Leminski, tomar um  petit gateau, comemorar a chuva, Brasília cinzenta, melancólica, com direito a café no final da tarde. A tristeza espalhada por todas as quadras. Escrever no blog. Há tanto a dizer. Queria ter postado o bilhete que recebi com uma crônica já imaginada. Não tenho tempo pra sentir, agora. Preciso de silêncio. De organização. De madrugada. Quando poderei respirar em paz? Planejamento financeiro, entrega de currículo. Quem sabe um curso novo? A mesma ideologia. Abraçar o mundo, egocêntrica e desesperada. Alugar um apê, comprar uma vitrola e dizer pra que veio. Depois clamar loucamente por outro furacão. Outro. E outro. Quantos forem necessários para que a vida ainda nos traga movimento e surpresa. É isso e mais monte de palavras.

Um comentário:

Ylian disse...

Tbm preciso desabafar o que acabou nesse instante de me ocorrer.
Terminei de ler seu texto... pensei várias coisas. Entre elas o significado de uma palavra que nunca tinha lido na minha vida: "Ebúrnea". Pesquisei na internet o significado... pensei mais um pouco e fui deitar na minha cama esperando a infeliz hora de sair de casa novamente.
Peguei o livro de contos da Virginia Woolf, abri aleatoriamente em um conto "Segunda ou Terça".
Comecei a ler e ja no fim no penultimo parágrafo a co-incidência: Eis o parágrafo.
"Agora refazer-se ao lado do fogo no quadrado branco de mármore. Vindas de "EBÚRNEAS" profundidades, palavras soltam seu negrume ao se erguer, florescem, penetram. Caído o livro; na chama, na fumaça, nas fagulhas momentâneas - ou agora viajando, o quadrado de mármore pendente, por baixo minaretes e os mares da ìndia, enquanto o espaço corre azul e as estrelas cintilam - a verdade? ou, agora, satisfação com a reclusão?"
Me levantei na hora e tive q compartilhar isso. Como explicar isso? Posso arriscar interpretações sobrenaturais, metafisicas, astrológicas...
Uma linha do seu texto ilustra esse acaso. "Encontro real com um desconhecido íntimo". Uma ponte inesperada, uma ligação de palavras que fez meu dia explodir... Sinta-se feliz por estar no mesmo patamar.