domingo, novembro 28, 2010

terremoto, dragão e vertigem




Havia vomitado duas vezes. A cabeça doía. Meu sono estava comprometido pelo balanço das placas e pelo bafo do dragão. Um terremoto havia se instalado em minha morada. Disfarçado de verdade, ele destruía a ordem pré-estabelecida.


Fomos atingidos enquanto fazíamos amor. As palavras estavam espalhadas pelo escritório, o nosso cheiro peculiar fazia parte da mobília. E aos pés do ouvido, os sussurros tracejavam um futuro idealizado.

E de repente, aquele tremor.  Tive medo que a nossa casa, de bases flutuantes, encostasse o chão. Poderíamos sobreviver à realidade? Teríamos força para reconstruir os sonhos? Íamos consumir todas as possibilidades? Seriamos plenos e felizes? Ou morreríamos na próxima esquina?

Do outro lado do mundo, fomos descobertos. O dragão sabia que estávamos vivos. Que existíamos. Que estávamos intimamente ligados. Ele destelhava o nosso cativeiro e rasgava as minhas esperanças. Era preciso aceitar aquele fato. O que faríamos agora, desprovidos de esconderijo?

Quando não tomamos decisões, encaminhamos para que a vida as tome. Durante 21 meses, de maneira submersa, tínhamos atitudes destemidas. Escancarávamos o amor proibido em cada canto visitado. Éramos ingênuos e inconseqüentes. Não nos preocupávamos com abalos sísmicos ou com descobertas de dragão.

Agora, o terremoto havia arremessado o corpo do meu comparsa pra longe. Eu esperava notícias, enquanto as suposições pipocavam. Estaria ferido? Teria força para optar? Conseguiria sobreviver a mudanças?  Ou ficaria no mesmo lugar? Ele seria mais feliz ali, com o seu dragão e sem mim?


Eu limpava o céu, enquanto ele negociava. Ordenava os novos fatos. Organizava os quereres. Desenhava as necessidades de um amor impuro. Eu doava o espaço para que eles decidissem a rota da minha pequena vida.
  

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