domingo, maio 09, 2010

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Enfim, é preciso partir. Seguir a viagem. Entregar o passado. Esquecer todas as idealizações de algo que não pode acontecer. Ver os fatos. Por pingos, exclamações e interrogações - tudo em seu devido lugar. Revisar as intenções, ler a realidade, encarar o problema de frente. E principalmente, deixar as reticências para os contos e afins. As malditas devem ser eliminadas - são elas, as culpadas - enganadoras de coração, criadoras de caso, abutres do passado. Matemos as reticências. Ponto por ponto. Friamente. Com luvas brancas de pelica. E depois do assassinato, voltemos a caminhar. O simples fato de por um pé, depois o outro. Perceba as cores desse equilíbrio instável. Aceite o esbarrão, o tropeço. Mas abra as mãos. Recicle seus pedaços. Desintoxique. Entregue o cheiro que não te pertence mais. Sim, esqueça as reticências, elas estão mortas. Não adianta. Volte a dançar com o acaso, coma todas as gentilezas por ai. Esse é o melhor perdão para frios assassinatos.

Um comentário:

Carol disse...

Ponto final. Finais enterrados, e o passado. Quando o silêncio, e a pausa necessária para a reflexão (reticências). Quando se cala, cola e destrói o que não durou. Não há pecado em assassinar, afinal o luto. Um pé e outro e novos pontos, como estrada que se abre. Suspensão do tempo (reticências). Do tempo suspenso: propensão aos tropeços, e deles, o acaso abrindo de novo o sorriso; braços salvos num esbarrão, e o suspiro trepidando de novo o coração. O assassinato é essencial porque purga, renova. Mas veja que, três enterros – três pontos, finais, enterrados -, reticências.