domingo, fevereiro 28, 2010

Fragmentos 2

Somos inaptos? Somos opostos? Vinho e água? Eu misturo a minha pele sobre o teu poema. Busco a receita perfeita. Eu faço verso com a nossa dor. Pinto a parede de azul para que a sua lembrança seja constante. Eu me atiro no abismo. Eu te entrego todos os detalhes. A culpa, a razão, a dor. Quem escreveu o roteiro dessa peça? Nosso encontro não pode ser interrompido pelo meio. “Desligue o celular, esqueça. Perca as estribeiras. Jogue tudo para o alto” – digo egoísta. Espero uma atitude insana que não irá acontecer.
a
Nós somos dois covardes na nossa guerra diária. Não temos força suficiente para encarar as decisões. As certezas foram criadas e perdidas entre orgasmos múltiplos e boas risadas. Quem se importa? O Haiti está em estado de calamidade. Mais de duzentos mil mortos. A globalização, o aquecimento terrestre, os acordos internacionais, a economia do Paquistão. Fodasse. Eu sou o meu mundo. Tenho interesses banais. Há uma tempestade dentro do meu quarto. O lençol ainda está sujo e eu me esfrego libidinosa na minha cama de manhã. Você está imenso, chefe de estado e parece à única coisa relevante do planeta.
a
Os meus dentes querem te arrancar dos braços dela. Anseio por um crime passional. Eu te vejo escorrendo entre as minhas mãos no meio do bloco. Você já esteve em minhas mãos? Tenho um surto de amor próprio. Como se amor, essa coisa estranha, pudesse ser própria de alguém. Viro uma espécie de heroína dos livros clichês. Cheia de orgulho idiota, de atitudes previsíveis, de lágrimas infindáveis. E em silêncio, eu me dilacero. Eu me escondo atrás do sofá. Eu peço que o mundo pare para que eu possa descer.
a
O meu peito é um depósito de auto-engano. Não quero que outros rostos preencham a tua ausência. Nem que meu corpo encontre cheiros diferentes. Desejo permanecer inteiramente sua. Virgem, casta, intacta. Quero que a vida, com todas as tuas voltas, te traga para o meu mundo. Você não deve ser memória, eu não quero ser lembrança. Nenhum passado é grande o bastante para abarcar a nossa estória.

Um comentário:

beta(m)xreis disse...

eu imagino isso recitado e acho ainda mais massa. gostei muito tb.