quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Ativa

Resolvi voltar a postar aqui no blog. Retomar os textos, com as mesmas palavras, cheia do meu ego. Esse silêncio, causado pelo luto e pela publicação, me fez repensar as plataformas da poesia.  Poesia não é só palavra, é ato. É a forma que se respira. A delicadeza que espanca a nossa atenção quando estamos andando pela cidade.  É o beijo que se dá ás três horas da tarde na segunda. Esse pedestal que está a literatura não existe. Escrever é despejar os desejos na tela. Não é necessário que agrade, que faça sentido, que você seja considerada poeta, escritora, o caralho. Compartilhar é o sentido. Expor outro ponto de vista. Convidar para um lugar. Não necessariamente alguém, mas a si. Se afundar nos teus espaços, nas tuas rimas clichês. Dói repetir os padrões, as expressões? Evidente. Não existe nenhuma novidade nesse fato. Mas a mudança só se dá nos pequenos atos diários. No minúsculo relato. Nas outras palavras escolhidas, reconhecidas. E para conhecer algo, é preciso se reconhecer gente, erro, desordem. E é dessa forma que volto. Me arrisco (novamente) a essa atividade doentia, revoltante , massacrante, deliciosa que é costurar palavras.

Sejam bem vindos!
Existe alguma coisa. É no centro. Coisa do centro do peito. Nesse espaço entre o seio direito e esquerdo. É um buraco fundo. Um espécie de vácuo. Talvez a dúvida. Uma mentira deslavada. Contada, repetida, ressonada. A escrita igual. Com três adjetivos juntos. O tempo de fechar os olhos, escutar a respiração e o batimento cardíaco. Como se tivesse a espreita, muito perto, o instante de coragem que a antecede a tempestade. A colisão. O reconhecimento do tom acinzentado. Aguarda. Novamente, fecha os olhos. Se fecha inteira. Pede pela pausa. Congela. Sabe o quanto é difícil se afogar? Grande pote de indecência. Lambuzar os dedos com escarro e desenhar no espelho. Porque esse oco, grita, aqui, no meio, agora? Um formigar sobe pelo pescoço, percorre a cabeça. Nem as palavras derramam mais. Se repetir enferruja a alma. Peço que caia sobre o colo sedento, sobre o sexo cansado, um espasmo bobo. Tratamento de choque, capotamento de vida. Transborda em mim, esse deus que não existe.


Do avesso, eu ficava, para te oferecer, a melhor parte. O possível, o provável. Revirada, esparramada. Te alimentava com palavras e trepadas. Boas trepadas. Fudidas homéricas. Intermináveis. Como se cada gozo fosse um novo trampolim, e eu, atleta dedicada.