Tira de Lucas Tonon Gehre
Sempre gostei dessa palavra. Acho forte, expressiva. Como se num passe de mágica, a gente pudesse mudar o nosso mundo. Um estalar de dedos e tudo se transforma: o choro vira riso, o estranho vira amigo, o amigo vira amor. Tudo isso de uma forma simples, efêmera, instantânea. A arte de se por disponível para o imprevisível. Sem amarras, sem correntes. E o que é a vida senão um instante? Esse que está se escorrendo pelos seus dedos nesse exato momento. O instante que tenta te abraçar, enquanto você foge por ter medo de cair. Essa dúvida que impede que a vida dance um tango colado com você. Hedonismo, diriam os intelectuais. Pecadores, a igreja. Porra Louca, minha mãe.
É lógico que falar de instantes é bem mais simples do que aceitar que a vida é feita deles. Não é fácil pra ninguém perceber que nesse planeta, o eterno é momento presente, o curso das águas não é você quem dá e os planos não passam de tempo perdido. Sim, eu estou exagerando mesmo. Mas se pararmos pra pensar, esse meu exagero está pautado na verdade. É triste, mas não mandamos em nada por aqui.
As vezes, passo meses planejando coisas que se dissolvem em segundos: viagens adiadas, amores perdidos, companhia trocada. Lembro de um carnaval antigo. A folia estava combinada com a Anita há meses de antecedência. Dias ansiosos, passagens compradas e pedras incontáveis na vesícula. A pobre Anita teve que ser operada uma semana antes do dia previsto para a orgia. E lá, estava eu, sozinha no galeão. E nesse mesmo carnaval, apareceu a Mila na minha vida. A Mila é irmã louca da Anita. Ela tinha acabado de chegar ao Rio e não conhecia ninguém, apareceu lá em casa pra tomar um chá e já foi convidada para morar. Simples e instantâneo. Como a vida deve ser. Uma amiga operada, uma amiga encontrada.
Tudo bem que se todos levassem a serio a eternidade do instante, o mundo estaria perdido. Nesse momento, por exemplo, provavelmente ninguém estaria trabalhando. Estaríamos todos enlouquecidos em uma praia ou em uma festa qualquer. Amores brotariam de forma rápida, sem tempo pra joguinhos ou máscaras. O medo do futuro seria substituído pelo prazer do eterno. E os antidepressivos sumiriam das farmácias. Como íamos organizar tanta felicidade? Será que a gente conseguiria viver em liberdade? E o poder de compra? E poder de venda? E a toda as regras que nos cerca?
Como uma boa pisciana, eu ia achar maravilhoso. Se o caos é a ordem natural das coisas, pra que passar tanto tempo tentando organizar? A vida vai encaixando tudo direitinho sem precisar de mãos adjacentes. Sei que mudar esse mundo é impossível, mas porque não mudar o seu mundo? Viver o presente. (Des)esperar. Morrer de amor. Tem coisa melhor? Nem adianta querer me enganar, eu tenho certeza que o instantâneo tem gosto de sorvete e não de miojo.